Diário de um Príncipe Inventado - Capítulo 8

-8
Vermelhocor, cor de sangue..

Acredito que tive o meu momento, é estranho afirmar isso, já que aconteceu a tão pouco tempo e foi com quem eu menos esperava. Mesmo depois desses últimos dias a primeira impressão que tive de James Patel estava começando a mudar.
Sempre o imaginei arrogante com aquele jeito estranho dele de ficar me encarando enquanto caminho pelos corredores do Colégio Bashville. Mas depois desses poucos minutos que ele conversou comigo, não sendo um vilão, mas como amigo, percebi que por alguma razão os problemas dele acabaram me afetando. E dobrando o casaco que ele me emprestou para ir embora e colocando-o sobre a cama fiquei imaginando como seria a nossa amizade.
Se é que existe alguma, por que é muito provável que amanhã no baile ele coloque o pé na minha frente para eu tropeçar.
Segurei o riso quando sentei na cama, ainda estava furiosa com os meus pais. Não tinha como simplesmente esquecer sobre o divórcio e tudo o que estava acontecendo.
Deitei na cama olhando para o teto branco do meu quarto. Dessa vez eu não tinha ideia do que fazer, a sensação de segurança não existia mais. Agora quando o meu pai fosse embora eu não precisaria ficar esperando pela sua volta, mas provavelmente veria minha mãe chorando em cima de uma tela pintada a tinta óleo.
Escutei as três batidas rápidas na porta, virei para o lado oposto quando vi meu pai colocando a cabeça para dentro do quarto.
“Posso entrar”, fiquei em silencio, ele sem resposta fechou a porta e se sentou ao meu lado na cama, “eu amo muito você querida”.
Ele começou e pousou sua mão em meu ombro, eu não sabia se deveria ficar irritada ou se deveria abraça-lo e chorar. Não queria vê-lo longe.
E como seria nossos feriados? Eu ficaria dividida entre ir para a casa dele e ficar ao lado da minha mãe? Não, não foi egoísmo. Não via assim.
“Lara”, ele acariciou meu ombro como se estivesse massageando-me, me sentei na cama olhando em seus olhos verdes, “não quero que fique assim”, ele continuou, “Não posso deixa-la assim, querida. O que está acontecendo agora, eu sei parece estranho e confuso, mas foi uma decisão, na verdade, foi a melhor escolha”.
“Eu não quero que você vá”. Disse tentando segurar as lagrimas que de teimosia começaram a escorrer pelo meu rosto.
“Querida”, ele me puxou abraçando-me forte, “eu preciso te contar uma coisa”, ele me soltou e olhou em meus olhos, “Eu amo muito você e sua mãe, amo mesmo, mas eu acabei conhecendo uma pessoa”.
“Então você realmente está traindo a mamãe?”.
“Não”, ele disse com um sorriso bobo no rosto, “nunca faria isso com ela. Eu a respeito demais para fazer isso. Aconteceu sim uma coisa, mas foram apenas flertes, sem toque, e de forma alguma eu a traí. Contei a ela o que estava acontecendo há algumas semanas e tomamos uma decisão juntos, mas eu preciso que você saiba que isso que está acontecendo comigo sempre esteve preso dentro de mim”.
“Como ela se chama?”.
 “Na verdade, é ele”. Eu segurei as mãos dele e as apertei firme. Fechei os olhos e senti a raiva passar pelo meu corpo seguido pelo temor e por último a compaixão. Tudo o que eu pensava era em como deveria estar sendo difícil para ele falar aquelas coisas.
“Pai”.
“É confuso, mas sua mãe sempre soube de tudo na minha vida. Mas nós decidimos conviver com isso e uma hora ou outra tudo viria à tona”. Ele abaixou a cabeça soltando a minha mão.
“Tudo bem”, eu disse e ele voltou a me encarar, “está tudo bem, você tem uma vida, mamãe tem a dela e eu a minha, todos queremos a felicidade e precisamos dela”.
Eu o abracei forte e assim eu consegui dormir um pouco, não muito, mas o suficiente para estar bem para o que me esperava no dia seguinte.
Talvez eu tenha tomado a decisão errada e talvez isso acarretou a tudo o que aconteceu em seguida, mas talvez eu também tenha feito a escolha certa e tudo o que aconteceu iria acontecer por causa do destino.
Melinda chegou na minha casa por volta do meio dia, eu a convidei para o almoço e ela pode conhecer meus pais. Ela se encantou com o meu pai que não parava de ser um grande brincalhão. Minha mãe não conseguiu segurar os risos quando meu pai contou sobre o baile aonde eles se conheceram, foi bom saber que mesmo, mesmo apesar de tudo, tudo ficaria bem e continuaríamos a ser uma família.
Melinda usou sua mão de fada para fazer alguns ajustes ao meu vestido e ao dela, a parte boa é que foram poucos, conversamos muito e acabei contando sobre o meu pai.
Melinda era a única amiga que eu tinha até então, e não poderia falar sobre os meus sentimentos para a minha mãe, não naquele momento pelo qual ela também passava, um dia, talvez, ela precisaria falar sobre o assunto e eu não hesitaria em ouvi-la. Melinda pareceu desacreditada, e não deixou de demonstrar carinho pelo meu pai.
Estava quase na hora quando terminamos a nossa maquiagem e colocamos nossos vestidos, me olhei no espelho e sorri.
O meu primeiro baile de inverno, e esperava que fosse o primeiro marco do ano.
“Você está linda”, ela disse me olhando dos pés à cabeça.
Meu vestido era azul, longo e encorpado, marcava cada curva do meu corpo desenhando minha silhueta. Ele tinha renda nas mangas longas e nas costas, usava um salto alto branco brilhante e o meu cabelo estava preso em um coque bagunçado e elegante.
Melinda usava um vestido lilás longo um pouco mais solto da cintura para baixo, quando ela girava o vestido dançava a sua volta. Ele era franzido e tomara que caia. Fomos para o baile no carro da Melinda, era provável que eu não conseguisse dirigir com aquele vestido.
Não demorou muito e estávamos tirando fotos na frente do painel de boas-vindas dentro do ginásio decorado como um iceberg.
“Estou muito ansiosa”, disse Melinda sem parar de olhar para James que veio acompanhado por uma das líderes de torcida, “este garoto é um idiota, Lara”.
“Talvez ele não tenha quem ouvi-lo”.
“Não o defenda”, disse ela me puxando para o meio da pista de dança a caminho da meda de bebidas, “você o conhece a quanto tempo? Uma semana?”.
Chegamos a mesa, próximos de Alice que também estava acompanhada aos beijos com um garoto alto de cabelo puxado para trás.
“Não estou defendendo ele, só não o conheço para julga-lo”.
Ela se afastou segurando um copo do ponche de cereja, tenho certeza de que não gostou da minha opinião, mas também não estava a afim de discutir. Melinda se juntou a um outro grupo, eram três garotas vestidas iguais, vestido branco e asas nas costas como se elas pensassem que estivessem um desfile de lingerie.
Cutuquei Alice no ombro assim que ela desagarrou do garoto de olhos azuis.
“Nossa como você está linda”, ela disse.
“Obrigada, você é quem está”, disse entusiasmada, ela sorriu, “Não nos falamos muito, você desapareceu”.
“James toma o meu tempo durante o dia e o meu namorado o resto, não tenho muito tempo de sobra”.
Sorri um pouco desconfortável.
“Eu vou ver se encontro a minha amiga”, disse me afastando.
Entrei no meio dos outros alunos, vi Sabrina de longe aos risos junto com as outras líderes de torcida.
Parei no meio da pista de dança.
Fiquei em silêncio durante dois segundos e pude pensar em muitas coisas. Com um sorriso no rosto eu pensei no que era certo e errado, acho errado alguém humilhar outra pessoa, por mais que seja apenas uma brincadeira, acho errado alguém decidir se a pessoa merece ser castigada ou não então durante esses dois segundo eu tomei uma decisão.
Olhei a minha volta procurando por ele, mas não o encontrava. Olhei entre as arquibancadas do ginásio que quase desaparecia no meio de tanta decoração de gelo. E lá estava ele, sentado segurando um copo de ponche de frutas vermelhas. Me aproximei e vi que ele tinha tirado uma pequena garrafa metálica do bolso interno do terno que vestia, ele deu um gole rápido e disfarçado desta e a guardou novamente.
“A novata está me espionando?”. Ele perguntou usando seu tom de voz patético de pura ironia.
“Não tenho tempo para o seu drama pessoal, James”, eu o segurei pela mão e o levantei puxando-o para dentro do corredor do colégio passando pela porta dupla.
Ele se soltou da minha mão balançando os braços com cara de enojado. Ele resmungou algo sobre eu estar ficando louca e parou assim que viu que eu não respondia aos seus insultos.
“Me chamou aqui para ficar me olhando com essa cara?”. Ele perguntou com os olhos avermelhados.
James estava nitidamente embriagado, seja lá o que fosse que ele havia ingerido teve um efeito grave nele.
Segurei em seus ombros e o chacoalhei.
“Você pode não acreditar no que vou falar agora, mas estão mentindo para você”...
“Como você sabe sobre o meu pai?”. Ele perguntou dando um gole no ponche. Seu rosto rapidamente empalideceu.
“Não é sobre isso, James”, olhei para a porta assustado. Parecia que alguém estava nos ouvindo e que a qualquer momento eu seria pega traindo a minha amizade com Melissa. “Esse encontro com a Sabrina, é uma armação”.
“Você está com inveja”...
“Como você consegue ser tão irritante, James”. Disse já furiosa com ele, quase desistindo e deixando ele levar o que fosse que as maldosas tivessem planejado, “Melissa me disse que as garotas, principalmente a Sabrina, planejou te humilhar na premiação. Você tem que fazer alguma coisa”.
James mudou completamente a sua postura, enrijeceu o rosto, ele estava nitidamente furioso com o que acabara de lhe contar. Ele me entregou o copo com ainda a metade do ponche e saiu sem dizer nada pela porta dupla.
Alivio, foi o que senti. Estava aliviada de ter contado para ele, provavelmente Melissa nunca mais falaria comigo, mas eu teria feito o bem.
Voltei para a festa, estava tão feliz do feito que comecei a dançar um garoto, ele foi um dos que me convidou para o baile, mas eu não lhe respondi.
“Pensei que você não fosse vir”, ele disse enquanto exibia um passo de dança maluco seguindo a batida da música eletrônica.
“Vim com uma amiga”. Expliquei. “Qual é o seu nome?”.
“Breno”.
Ele me contou um pouco sobre a escola, disse que também acabou vindo com um amigo. Ele estava no último ano e era um dos reservas do time. Conversamos a noite toda, ou pelo menos até a música lenta ser pausada pela a Sra. Bailey, a Diretora.
“Boa noite alunos do colégio Bashville”, ela disse com o microfone nas mãos em cima do palanque. A Sra. Bailey estava ridiculamente engraçada no vestido que usava. Era vermelho de bolinhas brancas, mas não pelo modelo longo do vestido e sim pelo tanto que estava apertado no corpo dela, e provavelmente ela não havia percebido que as costas do vestido estavam na parte da frente e não do jeito certo. “Está na hora mais aguardada do Baile de Inverno, então podem irem embora”, ela brincou, mas ninguém deu risada, ou pelo menos sorriu, “Bom, vamos anunciar o Rei e a Rainha do Baile”, ela pegou um envelope vermelho das mãos de Melinda que finalmente havia aparecido, já que eu a perdi de vista assim que entramos no ginásio.
A Sra. Bailey abriu o envelope e fez uma cara de surpresa, olhou para todos e abriu a boca para falar como se estivesse pasma.
“O Rei e a Rainha do baile de Inverno desde ano são, James Patel e Sabrina Cote”.
Um holofote brilhou sobre eles e Sabrina com um sorriso largo no rosto seguiu para o palanque com os braços dados com James. A Diretora coroou os dois com duas coroas pintadas de dourado. Então Sabrina pegou o microfone da mão dela.
“Muito abrigado pelos votos, estou muito feliz de ser a rainha do baile pela segunda vez seguida”.
Ela se afastou de James ao entregar o microfone para ele e olhou para trás assentindo com a cabeça. James segurou o microfone e ficou olhando para a plateia de alunos que aguardavam seus agradecimentos.
“Isso não vai rolar”, foi a única coisa que ele disse, então se próximo de Sabrina e tirou a coroa de sua cabeça jogando-a no chão e pisando nela quebrando-a. Sabrina ficou parada sem reação alguma.
Ele se aproximou do ouvido da garota e sussurrou algo para que somente ela ouvisse.
Sabrina desceu do palanque batendo os pés, ela estava furiosa. James sorriu para o público e acenou, pleno e belo.
Os alunos se dispersaram. James desceu do palanque e se aproximou.
“Me acompanhe por favor”.
Ele saiu na frente e eu o segui até o estacionamento. Rapidamente pude ver Sabrina com a mão no rosto encostada no carro. Todos os alunos começaram a sair de dentro do ginásio, sem entendeu eu segurei James pelo braço e ele parou.
“Tenho que agradecer a você, Lara, mas isso somente depois do ato final”.
Ele se soltou da minha mão e se aproximou de Sabrina.
“Como você”...
“Fique calada”, ele ordenou interrompendo-a. “Você pensou mesmo que a sua ninhada de cobras não seria descoberta, agora se você não quiser que todos saibam do seu segredinho, é melhor que você faça o que te falei para fazer”.
Sabrina se virou e abriu a mala do carro, ela olhou dentro dele e fechou os olhos.
“Estão todos esperando, Sabrina”. James olhava para ela como se fosse congela-la e depois bater nela com algo que a quebrasse.
Antes que ele falasse novamente, Sabrina pegou um balde que estava dentro da mala do carro, ela o ergueu com dificuldade acima da cabeça e despejou todo o liquido vermelho em si mesma.
“É isso o que acontece quando alguém trama algo contra mim”.
Disse James varrendo a todos com seu olhar irônico e com um sorriso torto no rosto.
Sabrina ficou ali, suja enquanto os alunos a fotografava, ela chorou, disso eu tenho certeza.
“Vamos para longe desse showzinho”, disse Breno no meu ouvido. Ele me segurou pela cintura e deu um beijo no meu rosto.
“Sorri para ele e o puxei para fora do estacionamento.
Ele me dava rápidos selinhos enquanto caminhávamos entre as arvores, indo em direção ao lago. Eu sei, eu não sou santa e nunca disse que era.
Já fiquei com outros garotos, e não vejo problema nisso, era jovem e uma boa aventureira.
Antes da areia do lago eu tirei as sandálias e toquei os pés descalços na areia úmida, Breno começou tirando sua camisa desabotoando rapidamente os botões preto. Ele me beijava com um pouco mais de fervor.
De repente meus pés já estavam sendo lavados pela água fria do lago, mas eu mal os sentia. Breno parou por um segundo de me beijar e sorriu olhando nos meus olhos.
“Você é linda, Lara”.
 Sorri virando o rosto, e foi só então que eu vi.
“O que é aquilo?” Perguntei olhando em direção ao lago.
Me soltei dos braços fortes e musculosos de Breno e entrei um pouco mais para dentro da água fria, Breno se colocou na minha frente como um cavaleiro protetor.

Então quando vi não aguentei, eu gritei, foi mais forte que eu. Gritei alto de desesperada correndo para fora do BashLake.

Comentários