POR DENTRO - Bem ou Mal

Bem ou Mal

Ryan abriu os olhos e viu o teto branco do quarto, ele sentiu um braço passar por cima dele e olhou rapidamente para o lado, Stefan sorriu.
__ Mais uma noite você dormiu e não fizemos nada, parece até que você está com medo de eu te machucar, Ryan – Stefan sorriu novamente.
__ Quando estiver preparado vai acontecer – Ryan respirou fundo ao sentir um toque leve em Sua genitália – e não é hoje, Stefan.
Ele o empurrou de lado e se levantou da cama se cobrindo um roupão de inverno.
__ Levante, é a última semana de aula, temos provas e eu ainda preciso organizar o comitê do baile. Você vai me ajudar?
__ Sempre estarei do seu lado, mas hoje depois da aula, vou precisar dar uma saidinha, preciso resolver algumas coisas.
Ryan olhou para ele com cara feia, como se quisesse jogar fogo pelos olhos.
__ Espero que não precise do time todo, vou precisar de alguns dos garotos – ele fez silencio ao amarrar o roupão na altura da cintura – eu acho que terei de ir ao baile sozinho, ainda não fui convidado por ninguém.
Ryan sorriu e foi para o banheiro.

Quarenta minutos depois ele e Stefan se aproximaram da turma que estava sentada embaixo da velha arvore na entrada da escola. Nico estava cabisbaixo enquanto Fernanda falava loucamente sobre ir comprar o vestido do baile. Kler dava total atenção para Fernanda como se as duas fosse melhores amigas há décadas, Roman se aproximou com um tabaco aceso entre os dedos, Ele o tragou e ofereceu a Stefan que o recusou quase que ficando pálido.
Nico se levantou antes do sinal tocar, Ryan o seguiu entrando na escola.
__ O que aconteceu? – Perguntou ele tentando acompanhar os largos passos que Nico dava – Você parece distante...
Nico parou no corredor entre os armários e encarou Ryan.
__ Você ainda é meu melhor amigo? – Perguntou Nico – Serio eu não te entendo, uma hora faz parecer que me quer longe e outra faz que está preocupado comigo...
__ Hey – Ryan o interrompeu – Sempre serei seu melhor amigo, não importa o que aconteceu, vou sempre me importar com você. Você nem sabe o quanto me importo com você.
Nico voltou a caminhar apressado pelo corredor, Ryan o seguiu correndo e o fez parar ficando na frente dele com as mãos pousadas autoritariamente na cintura.
__ Não se importou em dizer que ficou noivo.
__ Não seja infantil Nicolas. Você sempre soube que Stefan queria me pedir em casamento, nem mesmo eu pude imaginar que seria antes da formatura.
__ Fernanda acha que está gravida.
Ele disse finalmente libertando um peso que estava lhe puxando chão adentro.
__ Só se for do outro, Nico – Disse Ryan achando graça ao ponto de começar a rir – e você acreditou naquela vadia, vou te alertar mais uma vez, abre o olho com a Fernanda, essa aprendiz de bruxa não é nada comparada com o que você pensa.
__ Como pode ter tanta certeza disso?
__ Obtenha a resposta sozinho, só assim você vai acreditar – ele deu um tapa no ombro de Nico – agora tira essa paranoia da sua cabeça e tira pelo menos um B+ na prova de geometria. Não serei amigo de um repetente.

Fernanda sorriu ao entrar no elevador do prédio onde Josias morava, ela estava muito feliz e pronta para lhe contar aquilo o que a deixara com um enorme sorriso no rosto. A porta do elevador se fechou assim que ela apertou o botão para o terceiro andar.
O prédio não era de muito luxo, do lado de fora era todo revestido por tijolos vermelhos e por dentro as paredes brancas estavam encardidas igual ao piso de madeira. As portas eram estreitas e cada andar confortava seis quartos como se fosse uma pequena pensão.
Fernanda caminhou assim que a porta do elevador de abriu para a direita. Na última porta ela tirou do bolso da calça jeans uma chave e a girou na tranca.
Ela correu para dentro assim que viu Josias caído aos pés da cama logo na entrada.
Josias estava com uma camiseta cinza toda surrada e suja de sangue, sua calça jeans escura também estava, ela deu leves tapinhas em seu rosto tentando faze-lo acordar. Sem sucesso ela se levantou desesperadamente e correu para o outro lado do quarto pegando um copo que estava em cima de uma pedra de mármore presa a parede. Ela abriu a pequena geladeira que não dava a altura de sua cintura e pegou uma garrafa pet com agua e a despejou dentro do copo.
A garota voltou para Josias e deu novamente três tapinhas em seu rosto, ele abriu os olhos que envolta estava arroxeado.
Ele parecia tonto, como se estivesse tendo uma miragem no deserto de Dubai, sua boca abriu para dizer algo, mas ele foi interrompido quando Fernanda empurrou o copo fazendo-o tomar a agua.
__ O que aconteceu com você, Josias? – Perguntou ela se ajoelhando no chão sujo ao seu lado.
__ Ele fez isso comigo – respondeu Josias com a voz tremula, como se a qualquer momento fosse vomitar em si mesmo.
Ele abria e fechava os olhos parecendo querer desmaiar, sua visão estava embaçada e só reconhecera Fernanda pela voz.
__ Você não tinha o dinheiro para pagar, por que pegou o pacote?
__ Gastei o dinheiro – ele fez uma pausa e conseguiu focar sua visão exatamente no rosto de Fernanda que empurrou o cabelo para atrás da orelha arrumando o fio solto – preciso da sua ajuda, Fernanda, tem como me emprestar uma grana, ele disse que me mataria se não pagasse pelo pacote.
__ Deveria ter me pedido antes dele ter feito isso com você. Se eu conhecesse esse cara eu mesma o mataria.
Josias gemeu ao tentar se levantar, ele se aquietou mexendo apenas as pernas.
__ Se você soubesse quem ele é com toda certeza você pensaria nisso.
__ Não a minha prioridade no momento – Ela se sentou e olhos nos olhos de Josias que sorriu de leve, pois até seu rosto estava dolorido – estou aqui porque preciso te contar uma coisa.
Josias tentou novamente se endireitar encostando as costas na cama, mas tudo o que ele conseguiu foi ouvir o estralar de seus ossos.
__ Estou gravida, Josias.
Ele arregalou os olhos como se fosse espessa-los de seu rosto. Josias ficou pálido, nunca pensou em ouvir isso saindo da boca de Fernanda, a judia toda certinha, filinha do papai. Ela mesma se denominada a preferida de Deus.
Fernanda logo percebeu que aquela não fora a melhor das reações. Ela sorriu meio torto.
__ Não precisa se preocupar, vou dizer que o filho é do Nico, você não é o homem que gostaria que criasse essa criança...
__ De forma alguma você vai fazer isso – ele a interrompeu depois de ser ofendido – se o filho for meu teremos que lidar com a situação.
__ E o que quer que eu faça, Josias? Quer que eu deixe meu filho chegar em casa e ver que o pai dele levou uma surra de um traficante porque não pagou pela droga? Me recuso a tal cena.
__ Como vai explicar ao Nicolas que a criança nasceu morena, isso é descomunal, aquele branquelo ridículo de cabelo escorrido iria perceber.
Fernanda gargalhou alto, toda extasiada com a situação.
__ Nico é um idiota, se pedir para ele se jogar de prédio ele vai se jogar – ela passou a mão levemente no rosto de Josias – independente que você seja o pai, Nico vai assumir a criança.

PÂMELA – OI, ESTOU COM SDD. QUANDO VAI VIR ME VER?
VANESSA - JÁ ESTOU INDO, ME ESPERA NO JARDIM DA ESCOLA, ESTAREI LÁ.

Pâmela guardou o smartphone depois de fechar o aplicativo MOgy. Ela sorriu e voltou a olhar para o quadro negro onde a professora que usava uma saia com estampas floridas até os pés escrevia um texto de reflexão sobre a escravidão.
__ Turma, amanhã terá reunião do conselho com todos os alunos, o Diretor pediu para evitarem atrasos pois iremos falar sobre o baile de formatura.
O sinal soltou um eco pelos corredores dos armários, Pamela arrumou seus livros nos braços e se levantou da última cadeira da fileira ao lado da janela.
Ela olhou para baixo, onde a vista era exatamente o jardim da escola e ela a viu. A garota de boné, calça jeans larga e camiseta preta. Pâmela e Vanessa estavam tendo um pequeno romance há algumas semanas, dês que a garota do sul se mudou para a cidade. Pâmela mostrou afeto pela Vanessa logo depois do primeiro beijo que aconteceu em uma festa de fraternidade de um amigo incomum das duas.
Desde então elas têm esses pequenos encontros após a aula.
Saindo da sala ela ouviu Ryan conversar com Stefan sobre o atraso do capitão do time de futebol no encontro da noite anterior. Ryan parecia furioso enquanto ele andava pelo corredor sem olhar para Stefan.
Depois de dobrar o corredor em direção as escadas ela viu Fernanda e bocejou com sono descendo as escadas ao seu lado, uma sorriu para a outra.
Pamela continuou sua caminhada até a porta de saída que ficava no meio do corredor, ela quase se perdeu no meio de tanta gente que queria sair daquele lugar chamado de prisão – era apenas uma escola.
Vanessa sorriu ao ver Pâmela passar pela porta.

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