POR DENTRO - Amor, Traição e Surpresa

Amor, Traição e Surpresa

Kler entrou na igreja no final de sua rua, passou entre os bancos de madeiras olhando para o púlpito à sua frente, a imagem esculpida de Jesus na cruz a fez lembrar das inúmeras vezes que frequentou aquele lugar com sua mãe, ela viu que tinha algumas velas acesas sob uma mesa de mármore branco de duas fazes. Do bolso do moletom que vestia ela tirou uma vela branca e uma caixa de fósforos.
A garota abriu a pequena caixa e pegou um palito de ponta acobreada, riscou este na lateral da caixa e acendeu a vela em sua outra mão. Com três pequenas gotas ele firmou a vela sob o mármore branco, fechou os olhos e se ajoelhou.
__ Eu nem sei por onde começar – disse ela em um sussurro – não está nada bom sem você, mãe. Papai finge estar feliz com o trabalho, mas tudo o que ele faz é se ocupar para não pensar demais. Por outro lado, fico feliz que ele conseguiu sair de casa sem chorar sua perda. Estou tentando seguir, mas sabe quando algo te faz se sentir vazia, bom, é assim que me sinto. as noites me lembro das histórias que me contava sentada aos pés da minha cama, me sinto quebrada como se um pedaço de vidro tivesse me partido ao meio. Eu juro que estou tentando, mãe. Só não sei até quando vou tentar sem conseguir. Você nem sabe o quanto sinto a sua falta.
Kler abriu os olhos e se levantou virou em direção a porta e viu Fernanda que a fitava com lagrimas nos olhos.
__ Isto era para ser algo particular, Fernanda – disse Kler se aproximando enfurecida pela presença de Fernanda que não tirava os olhos dela.
__ Eu te vi atravessando a rua – ela ficou em silencio esperando um afronto de Kler que apenas parou de frente para ela – eu sei que não somos tão próximas, mas estou precisando de uma amiga.
__ Nunca seremos amigas, Fernanda – Kler passou pela garota de cabelos longos e cacheados seguindo para a porta alta de madeira – você mesma disse isso há alguns dias.
__ Estou gravida – disse Fernanda entes que Kler passasse pela porta e saísse.
Isso fez com que a morena parasse e virasse para Fernanda que enxugou as lagrimas que havia escorrido por seu rosto.
__ Sua vadia – ela colocou a mão na boca lembrando-se de que estava na igreja – Me perdoe Deus – disse ele olhando para a escultura no púlpito – Como assim você está gravida?
Fernanda revirou os olhos.
__ Não vou te contar como que aconteceu aqui dentro – Fernanda puxou Kler para fora da igreja.
__ Não quero saber como aconteceu e sim como se deixou levar a isso, você é muito nova para ter um filho, Fernanda – Kler arregalou os olhos e franziu o cenho enquanto encarava Fernanda.
__ Você parece mais assustada do que eu que carrego o feto – Disse Fernanda começando a caminhar pela calçada.
__ Estou surpresa que a perfeitinha da escola está gravida – Kler começou a seguir Fernanda que começava a dar passos longos – Sem ofender, mas até a sua mãe achava que você era virgem.
__ Se fosse para você me humilhar não teria contado, como disse preciso de uma amiga – Fernanda ficou em silencio e dobrou a esquina entrando em uma cafeteria.
Ela caminhou até o atendente atrás do balcão que exibia faixas de preços dos produtos.
__ Dois capuchino, por favor – ela se virou para Kler e acenou com a cabeça para que se sentasse.
Kler olhou em sua volta procurando um lugar e sentou ao lado da janela que dava vista para a praça do outro lado da rua. Fernanda se aproximou trazendo dois copos médios e entregou um para Kler.
__ Quem é o pai? – Disparou Kler sem pensar.
__ Você só pode estar de brincadeira comigo? – Fernanda se exaltou quase derramando o liquido em sua camiseta branca – É claro que é o Nicolas.
__ Ele sabe?
Fernanda respirou fundo e revirou os olhos segurando a imensa vontade de empurrar Kler da cadeira e lhe dar várias bofetadas acabando com a sua linha de ‘quero uma amiga’.
__ Disse que achava que estava gravida, não dei nenhuma certeza.
__ Você quer essa criança? – Fernanda abriu a boca para responder, mas Kler a interrompeu – Não estou sugerindo que aborte, só quero dizer que existe alguns programas que são sugeridos caso a adolescente não queira a criança, assim dando ela para uma outra mulher. Normalmente é uma mulher que não pode ter filhos.
__Nunca abortaria um filho, é uma vida dentro de mim. Muito menos o daria para uma desconhecida – ela fez silencio e tomou um gole do liquido quente do copo que estampava o nome da cafeteria – eu quero ficar com a criança, acho que pela reação de Nico ele também quer. Não vai atrapalhar em nada, já que vamos se formar em dez dias.
__ O problema não é a formatura, só quero saber de uma coisa, você tem certeza de que está preparada para ter um filho?

Pâmela soltou a mão de Vanessa ao dobrar a esquina de sua casa. Ela sabia que se algum vizinho a visse contaria para seus pais, que ainda não sabia do sobre sua amiga.
Foi assim que ela apresentou Vanessa para a mãe na primeira vez que foi acompanhada para casa.
Sua sexualidade ainda era um transtorno para o pai que era mais um caipira do interior do que para sua mãe que apoiava tolamente a irmã que recentemente foi morar junto com uma mulher.
Vanessa entregou a mochila de Pâmela que carregou durante o caminho.
__ Está entregue – Vanessa sorriu exibindo um piercing no smile.
__ Vou me formar na semana que vem. Minha professora disse que tenho ótimas notas que que com certeza não vou reprovar em nenhuma matéria.
Pâmela parou embaixo de uma arvore que ficava a quatro casas de sua casa.
__ Isso é ótimo – disse Vanessa ainda com um sorriso nos lábios – já decidiu o que vai fazer depois disso?
__ Me leva no baile de formatura? – Pâmela disse as palavras como se um vento forte as tivesse tirado de sua boca.
Ela sorriu envergonhada. Seu rosto corou deixando suas bochechas avermelhadas, Vanessa passou a mão em seus cabelos louros levando uma mecha para trás da orelha esquerda.
__ E seus pais?
__ É uma festa para os alunos e não para os velhos alunos – Pâmela sorriu novamente abobada – você vai?
__ Por você.
__ É melhor eu ir indo, minha mãe consegue contar quanto tempo demoro para chegar em casa – Pâmela começou a andar em direção a sua casa azul e parou voltando a olhar para Vanessa, ela sorriu e entrou no quintal de sua casa.

Stefan olhou pela janela do seu carro esperando Ryan sair do prédio da escola. Ao vê-lo buzinou chamando sua atenção, Ryan correu segurando seus livros nos braços. Stefan lhe deu um selinho e sorriu.
__ Porque foi embora depois do intervalo, fiquei te procurando? – Disse Ryan jogando os livros de biologia e literatura no banco de trás pela janela.
__ Tive que resolver algumas coisas sobre a festa.
__ Que festa, Stefan?
__ Aquela que dou anualmente, como esta é a última teria de ser especial. Vai na minha casa amanhã as doze horas.
Stefan desbloqueou o visor de seu smartphone e apertou enviar. No mesmo momento o smartphone de Ryan vibrou. Ele o pegou do bolso e abriu o chat do MOgy.

STEFAN – FESTA NA MINHA CASA AMANHÃ.
STEFAN – TRAJE DE PRAIA

Abaixo da mensagem havia a localização da mansão de Stefan ilustrada em um mapa.
__ Não vou deixar ninguém ver meu futuro marido de sunga, não vou mesmo – Ryan deu risada – tenho que voltar, vou começar a reunião para decidir o tema do baile deste ano.
__ Tenho certeza de que escolherá o melhor de todos – Ryan se aproximou um pouco mais e beijou Stefan – nada de fundo do mar.
__ Vai ser TITANIC – gritou o garoto voltando para o prédio da escola.

Já era tarde quando Ryan saiu pela porta do prédio da escola, ele olhou a lua cheia no alto do céu entre as nuvens. Ryan atravessou o gramado onde havia combinado de encontrar Stefan. Ele olhou para trás e viu o grupo de alunos que saíram da escola, eles eram do comitê do baile de formatura e estavam entusiasmados conversando como poderiam trabalhar o tema. Ryan sorriu.
Digamos que foi totalmente ideia de ele usar algo que ele ama para deixar os formandos felizes. Ele tinha certeza de que todos iriam amar.
Seu smartphone vibrou no bolso, ele desbloqueou o visor que logo iluminou seu rosto.

STEFAN – AMOR, ACONTECEU UM IMPREVISTO AQUI EM CASA, NÃO VAI TER COMO IR TE BUSCAR, LIGA PARA SUA MÃE.

Ryan bufou, ele começou a imaginar que tipo de imprevisto poderia ter acontecido, mas no final de listar os cômodos da mansão que poderiam ter desabado, uma enchente, um acidente, perda de algum membro do corpo ou até mesmo a morte de alguém da família, ele começou a se tocar que Stefan já estava meio distante.
Ryan entrou no chat do MOgy e digitou.

RYAN – VOCÊ PODE ME FAZER UM FAVOR?

Ele ficou aguardando a resposta do remetente olhando atentamente no visor.

NICO – O QUE POSSO FAZER POR VOCÊ?

Ryan sorriu e digitou.

RYAN – PODE VIR ME BUSCAR NA ESCOLA, DEIXEI O CARRO EM CASA E ACHO QUE MEU NAMORADO ESTÁ OCUPADO DEMAIS PARA VIR ME BUCAR.
NICO – ESTOU Á CAMINHO

Ryan sorriu novamente, ele sabia que apesar de tudo, ele podia contar com Nico, afinal, eles sempre foram amigos inseparáveis e mesmo que algumas coisas ocorridas fizeram eles se afastarem (Nico ter beijado ele), Nico estaria sempre disposto a ajuda-lo.

Josias girou a chave na fechadura e encarou o escuro dentro do apartamento do outro lado da cidade, ele procurou o interruptor para acender a luz e a acendeu.
Ele pensou em qual das alternativas ele teria mais chances de sobreviver encarando os olhos de Stefan que estava com uma marra de ferro em uma das mãos.
Ele poderia correr, mas sabia que Stefan não tão idiota, com certeza haveria alguém para surpreende-lo na entrada do prédio, ele poderia lutar com Stefan, mas outros homens apareceriam e a surra seria pior. Na verdade, ele não tinha muitas alternativas a não ser.
__ Olá querido, Stefan – a melhor das alternativas era ser cordial para tentar apanhar menos – não esperava te ver tão cedo.
__ Peguem ele – Disse Stevan com a voz calma.
Ele deu meia volta rápido para correr e tentar fugir, mas foi surpreendido por dois homens enormes que grudaram em seus braços levando-o arrastado para dentro do apartamento de piso de madeira e paredes brancas.
O espaço era pequeno, mas era o melhor lugar que seu dinheiro poderia pagar, e ainda assim Josias já estava devendo dois meses de aluguel.
Não era somente de Stefan que Josias fugia, ele fugia do Sindico, os lojistas, do dono do prédio. A vida de Josias havia mudado muito desde quando ele começou a trabalhar para o Stefan.
Stefan nunca foi um traficante tão maioral assim, ele cresceu com o tempo. Seu dinheiro facilitou muito para isso. Ele vendia somente para alguns amigos, mas você sabe como funciona, de amigos em amigo uma festinha se torna uma grande festa incontrolável. Então ele precisou tomar controle do rebu que ele acabou formando. O time de futebol trabalhava para ele, eram homens forte e era exatamente disso que Stefan precisava para controlar seu estoque e até mesmo seus clientes devedores como Josias que foi colocado a sua frente já imaginado a dor que sentira ao levar um golpe da barra de ferro que Stefan estava segurando.
__ Decidi mudar o seu prazo – Stefan sorriu encarando Josias – levando em conta as inúmeras vezes que você me passou a perna.
__ Mas eu ainda não consegui o dinheiro – disse Josias com um olhar de suplica.
__ Por isso, você tem somente até segunda-feira, nenhum dia a mais. Estamos entendidos?
Stefan bateu forte com a barra de ferro na perna esquerda de Josias que gemeu tentando não transparecer a verdadeira dor que estava sentindo.
Os homens soltavam Josias com um empurrão jogando-o não chão no centro da sala. Josias caiu de peito no chão.
__ Você tem um prazo, Josias. Espero que o cumpra.

Nico estacionou o carro na frente da arvore do jardim da escola, Ryan deu a volta no carro e entrou do lado do carona.
__ Obrigado – Ryan sorriu para Nico que retribuiu o sorriso.
__ Pode contar comigo sempre – Disse Nico acelerando o carro – vai fazer o que agora?
__ Não sei, tomar um banho e dormir – Respondeu Ryan olhando atentamente a rua mal iluminada.
Nico olhou para ele desviando sua atenção da rua, ele sorriu.
__ Estou sozinho hoje, meus pais viajaram. Vamos para a minha casa, assistimos um filme.
Ryan segurou o volante guiando o carro ao perceber que Nico estava muito distraído para conduzir.
__ Preciso tomar um banho...
__ Tem roupa sua no quarto de hospedes – Nico interrompeu acabando com a desculpa de Ryan – cinco, quatro, três...
__ Tudo bem..., Mas é só um filme, tem a festa do Stefan amanhã.
Nico deu risada e voltou sua atenção para a rua.

__ Okay, somente um filme.

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