Diário de um Príncipe Invetado - Capítulo 4
Recôndito - que se escondeu;
encoberto, oculto, retirado.
Ter Alice como amiga naquela escola seria uma
das melhores coisas que me aconteceria desde que pisei naquela cidade.
Até
perceber que enquanto contava como foi a minha estadia em Paris James começou a
se interessar pelo assunto, ele passou a olhar diferente, e só bastou ele ter
saído da mesa que estávamos sentados no refeitório e voltar alguns segundos
depois. Nada como um tempo de reflexão para perceber que ninguém estava
lingando nenhum pouco se ele gostava ou não de mim.
Depois
que Alice me ajudou a encontrar meu armário guardei todos aqueles livros
pesados e fui para a sala de matemática que ficava no outro prédio da escola.
Se James Patel tivesse me mostrado toda a escola teria encontrado com mais
facilidade e não precisaria ir até a secretaria para perguntar aonde ficava a
sala.
Entrei
na secretaria abrindo a porta de vidro. A Diretora Bailey estava saindo de sua
sala quando entrei e caminhei até a mesa de uma outra moça que teclava no
computador amarelado.
“Bom
dia, a Senhora poderia me ajudar?”. Perguntei à moça colocando um sorriso no
rosto.
Ela
olhou para a Sr. Bailey e mudou totalmente sua expressão de cara fechada para
um sorriso amarelado e assustador, mesmo que tentando ser gentil.
“Sim,
claro, o que posso fazer por você, querida?”. Ela se levantou apoiando as
pontas dos seus dedos de unhas pintadas de um vermelho escuro em parte
descascados na madeira da mesa.
“Preciso
saber aonde fica a sala de matemática do terceiro ano”.
“Sta.
Hussain, como assim, pedi expressamente para que James Patel lhe mostrasse o
prédio escolar todo, isso inclui a sala de matemática”.
“Desculpa,
Sra. Bailey, é que me esqueci, são tantas informações no primeiro dia”,
respondi antes que ela tirasse suas próprias conclusões, mesmo que ela pensasse
que Patel não tenha me mostrado nada além dos banheiros.
“Pode
deixar, Maria, eu mesma irei leva-la até a sala de aula, até porque a mocinha
está atrasada, de novo”.
A
Sra. Bailey me lançou um olhar de repudio. Ela passou pela porta de vidro e
esperou até que eu começasse a segui-la pelo extenso corredor.
Ela
estava a três passos na minha frente tagarelando sem parar sobre ter certeza de
que James Patel não havia me mostrado o colégio conforme ela havia pedido, ela
até culpou a Sta. Collins de não ter passado o recado.
Mantive
minha boca fechada, o garoto arrogante não gostava de mim. Pouco importava o
motivo para ele poder me odiar um pouco mais. Respirei fundo quando passamos
pelo jardim dos fundos, o clima não estava como o de manhã, lembrei-me do vento
que cortava minha pele em mil pequenos cortes na minha caminhada de casa até a
estação de trem.
Naquela
hora do dia estava quente em algum lugar do mundo. Era quase o fim do inverno.
Fim de abril, era para ter raios de sol tocando minha pele. Mas ainda assim,
naquela cidade fria, o céu podia esta azul como a safira que ainda estaria
frio.
Me
abracei com meus próprios passando eles entorno do meu corpo.
Entramos
no outro prédio e a Diretora já havia mudado de assunto, de Patel irresponsável
para como aquelas crianças do fundamental gritavam durante todas as aulas sem
controle.
Até
que...
“Sta.
Hussain, admito que suas notas são excelentes para quem já esteve em três
escolas em menos de um ano, mas terá de se esforçar um pouco mais se quiser se
formar em no próximo mês. Ficarei atenta nas notas de seus testes”.
Ela
disse assim que parou na frente da sala de matemática. Assenti como se
estivesse concordando mesmo que meu estomago embrulhasse sem motivo algum.
Ela
deu duas leves batidas na porta branca de madeira e a porta se abriu revelando
o Professor.
“Bom
dia, Sr. Morgot”. Ela deu um sorriso estranho mudando radicalmente de humor.
“Está é a novata Lara Hussain, ela se atrapalhou um pouco nos corredores, por
isso está atrasada”.
Sr.
Morgot era um homem de meia idade, talvez uns quarenta e cinco anos, ele tinha
os olhos cinzentos e os lábios avermelhados. Seu rosto era fino e seu cabelo era
castanho e estava jogado para trás bem penteado. Ele era alto e tinha os ombros
largos como os de um atleta, seus braços musculosos faziam sua camisa branca
marcar cada musculo, até mesmo os músculos de seu abdômen estavam marcados da forma
mais sexy que já vi um homem.
“Sra.
Bailey, obrigado por ter ajudado ela a encontrar minha sala”. Ele me encarou
com seus olhos cinzas e sorriu levando os lábios para um dos lados, nossa o que
estava acontecendo comigo, acho que iria começar a gostar de matemática,
“Entre, por favor, Sta. Hussain”.
Sua
voz era grossa e sensual, ele falava cada palavra pausadamente movendo seus
lábios de forma ligeira enquanto me encarava nos olhos.
A
Sra. Bailey não tirava o sorriso do rosto, havia entendido o verdadeiro motivo
dela querer me acompanhar assim que o anjo caído abriu a porta.
Entrei
na sala enquanto ele entonava um cântico de adeus aos ouvidos da Diretora.
Ele
fechou a porta atrás de si e sorriu para mim e para a classe que era em sua
maioria garotas.
Com
toda certeza, naquela escola poucas meninas reprovavam na matéria.
“Pode
escolher seu lugar, Lara”. Se ele não parasse de cantar lentamente no meu
ouvido provavelmente desmaiaria.
Havia
dois lugares vagos nas mesas de dupla, fui até a mais próxima da mesa do
Professor, uma cadeira na frente da dele, sem tirar os olhos daquele corpo
maciço.
Sentei
ao lado de outra garota enquanto ele começava a explicar sobre a formula de
Expoente Fracionário.
“Oi,
Lara. Meu nome é Melinda Cote”.
E
foi assim que começou a ir de ruim para pior ainda nos meus dias naquela
escola.
“Oi”,
olhei para ela tirando os olhos do Sr. Morgot por alguns segundos, “Ele vem
sempre vestido assim, ou só nas minhas aulas na segunda-feira?”.
“Todas
as aulas”, ela deu uma breve risada baixa.
A
aula passou tão rápido, quase que imperceptível.
Melinda
era uma das líderes de torcida e provavelmente uma das garotas mais legais
daquele grupo. Ela conversava demais e mesmo depois de sairmos da sala de aula
continuou a falar comigo contando um pouco do colégio. Comentei que havia me
perdido pouco mais cedo e ela me mostrou um pouco da escola, um tour rápido,
mas pude ver que existia uma sala de informática, clubes de esportes e que
tinha um clube de música que era a minha verdadeira paixão.
“Aonde
você mora?”. Ela perguntou quando saímos no jardim da frente do prédio.
Olhei
a minha volta e vi que era mesmo uma cidade calma, os alunos não ficavam ali na
frente da escola conversando quando acabava as aulas, eles simplesmente se
dispersavam nas ruas, uns grupos iam em direção à estação e outros seguiam para
suas casas. Pelo pelos os que moravam naquele bairro.
“Moro
no bairro central, na verdade tenho que correr, não posso perder o trem de
volta”.
“Não
mesmo, você vai comigo”.
“Como?”.
“Também
moro lá, te dou uma carona”.
Saímos
do jardim e eu concordei com a cabeça. Que mal tinha de pegar uma carona,
estava ciente de que fazer novas amizades seria bom para mim.
Os
novatos eram sempre tão destinados a passar seus primeiros dias solitários que
não vi mal algum em ter mais uma amiga.
James
e Alice, se aproximaram quando paramos perto do carro no estacionamento.
“Então
você já conheceu a Melinda”, começou Alice com um sorriso no rosto depois de
cumprimentar a garota de cabelos negros e cacheados até a cintura, “Melinda,
nós vamos ir até o lago, quer ir com a gente?”.
“Eu
não sei, tenho que ir para casa, o Professor de História passou um
trabalho...”.
“Para
com isso, sabemos que é só falar sobre os fundadores, e ficará com dez de
nota”. James me encarou e sorriu de um jeito estranho.
Não
estranho do tipo que iria me matar como fizera nas outras vezes, mas de um
jeito estranho como se estivesse realmente feliz.
“E
outra, Lara, seria muito bom se juntar a nós no lago”.
“Você
quer ir?”. Perguntou Melinda sorrindo, não iria estragar tudo, eles estavam me
convidado para fazermos alguma coisa juntos, não havia nada para fazer depois
da aula, não tinha trabalho nenhum e Melinda com certeza queria acompanhar
eles.
“Você
quem me diz, se for um lugar legal, seria bom conhecer”, disse apenas.
“Nós
vamos”.
“Certo,
vou pela encosta, me segue”. Disse Alice e se afastou ao lado de James.
Melinda
entrou no carro do lado do motorista e eu dei a volta entrando no lado do
carona. Ela acelerou o carro enquanto contava que as vezes eles faziam fogueira
no lago e que era bem legal já que eles estavam cheios de ir à galeria que
havia inaugurado há algumas semanas. Estávamos seguindo o Volvo 2010 de Alice
que acelerava na nossa frente. Melinda me disse para ficar atenta à janela pois
veria pela primeira vez a paisagem que não se vê de dentro do trem.
Tinha
certeza disso, o trem passava na ferrovia a uns vinte metros a direita depois
das arvores altas, não consegui ver muito do lago de dentro dele, mas estava
conseguindo ver um pouco agora. E era lindo todo aquele lago em si. Era como
uma praia, só que sem aquele mar extenso até o fim, conseguia ver as pequeninas
casas do outro lado, bem lá no fundo. Ele tinha três tons de azul começando
pelo mais claro em sua margem e escurecendo até o centro em diante.
Era
lindo.
Algumas
arvores estavam imerges na margem, a pista que se estendia na sua lateral dava
a volta no lago e aquela paisagem parecia não acabar nunca.
Passamos
por um túnel de uns vinte e cinco metros onde era possível enxergar somente os
faróis dos carros de alguns alunos que seguiam o mesmo destino que o nosso.
Saímos
do túnel e Melinda sorriu me encarando como se ela quisesse saber o que estava
sentindo somente com um olhar rápido e ligeiro.
E
sim estava de boca aberta. Só faltava sair por aquela pista com um carro com a
capota abaixada. Iria me levantar e abrir os braços sentindo todo aquele ar
entrando nos meus pulmões e admirando tudo aquilo a minha volta.
As
pequenas casas estavam próximas quando paramos o carro na margem de areia
branca do lago.
Sai
do carro e capturei tudo com os olhos, a beleza do lago toda, minha mãe tinha
razão aquele era um lugar maravilhoso para se escrever um livro, para virar um
cenário de um romance lindo de mais de sete livros.
Os
outros alunos já estavam indo para mais próximo da água azulada do lago
carregando cadeiras, toalhas de banho e caixas térmicas.
“Seja
bem-vinda ao BashLake, Lara”.
Nos
aproximamos do resto do grupo, eles já estavam organizados nas cadeiras
segurando garrafas de cerveja e copos vermelhos bebendo e dando risadas
enquanto falavam do sucesso de venda que seria o livro que Patel estava
pensando em escrever.
Alice
contou um pouco sobre seu personagem que passou a ser de James, ela disse que
não tinha pensando direito na história de vida dele, apenas que ele era um
homem casado e feliz. E que não pensaria em fazê-lo se apaixonar por outro
homem.
“Esse
garoto é um fodido, Lara”, Melinda disse baixo enquanto James continuava a
falar de seu personagem.
“Por
que? Não achei ele muito legal também”.
“O
que eu vou te contar você não pode dizer a ninguém”.
Fiquei
atenta, olhei para os lados e me aproximei dos lábios de Melinda me preparando
para ouvir aquele novo segredo.
O
lago era um bom lugar para se esconder um segredo, o que se fala no lago fica
no lago. E eu estava pronta para ouvir o que Melinda queria contar.
“Sabrina
Cote convidou James Patel para ir ao baile com ela”, disse Melinda bem baixo,
quase que em um sussurro.
Comecei
a me perguntar quem era Sabrina Cote e porque ela chamaria Patel para ir ao
baile com ela. Olhei para James e ele parecia bem feliz conversando com os
outros. Ele estava diferente do garoto que conheci mais cedo. Talvez, mas só
talvez ele fosse uma boa pessoa e merecesse sair com alguém. Talvez ele mudasse
esse jeito antipático dele e se tornasse uma pessoa melhor. Talvez ele fosse de
verdade esta pessoa chata por algum motivo.
Ninguém
é o que é ou faz o que faz por um motivo atoa. Passamos por diferentes
situações nesta vida e essas situações nos leva a acreditar que é melhor sermos
outa pessoa.
Ele
podia estar apenas se protegendo ou algo assim. Não podia entende-lo. Nem sei
se devo entender o que se passava na cabeça dele naquela época.
“Quem
é Sabrina Cote?”. Perguntei a Melinda que apontou com o queixo em direção a
garota com pele de porcelana.
Sabrina
Cote era linda mesmo, mas porque ela convidou o garoto galgaz para ir com ela
no baile, James Patel não conseguiria esconder aquelas penas finas em um terno
de forma alguma.
“É
um trote, eu a desafiei a convidar o garoto mais estranho da escola para ir com
ela ao baile. Se ela realmente passar o baile todo ao lado dele, terei de fazer
um outro desafio”.
Simples
assim, Melinda. Pensei comigo mesma. Um desafio, algo para fazer contra James.
Seria maravilhoso assistir a isso de camarote comendo pipoca.
Como
se assisti um filme, James seria a Carrie A Estranha da minha vida.
Era
só esperar o sangue de porco cair sob sua cabeça durante o baile. Em algum
momento aconteceria.
Comentários
Postar um comentário