Fragile Love - Sangue (Leticia Siqueira)

Sangue (Leticia Siqueira)

Minha rotina é simples, eu acordo todos os dias ás cinco da manhã, caminho entre as ruas Três e Oito, então começo a correr cruzando a avenida principal, depois dobro a esquina e por fim volto para casa. Com todos os tipos de sensações de uma mulher em dias difíceis entro no banho e fico pronta para o trabalho exatamente ás sete horas da manhã, é neste mesmo horário que saio de casa passo na cafeteria na esquina de casa e sigo até o escritório. Não acredito que o bairro seja perigoso, mas também não acredito em todos os meus vizinhos, qualquer um deles pode ser um assassino. A questão é que a minha rotina é totalmente cronometrada e nem faço questão de parar para cumprimentar ou saber um pouco mais sobre a vida deles.
Gosto de ir andando ao escritório por que sou completamente a favor do meio ambiente, embora ele fique há vinte e sete minutos da minha casa e andando de salto pode se alongar para trinta minutos, eu não me importo.
Chego passo pela mesa da secretario, recebo os recados por ela, ignoro todos que sejam da minha mãe ou do meu irmão que moram no norte de Louisiana, por isso mesmo que ela apenas fala:
“Recados da mãe”, digo que não com a cabeça, “Recados do irmão”, digo que não novamente, assim são as minhas manhãs, fora atender telefonemas, conversar com os clientes que desejam participar da nossa bolsa de valores.
Parece ser muito solitário, mas não é. Minha gata Alex fica me observando chagar na frente de casa pelo vidro da janela, e quando abro a porta ela dá um miado então me lembro que mais uma vez esqueci de colocar comida para ela, corro verifico a comida, agua tomo mais um banho faço meu jantar, bebo agua, faço carinho nas costas de Alex, me pego lendo um livro.
Por fim durmo para que novamente volte a rotina do dia seguinte.

09 de janeiro
O fim de semana foi exaustivo, porque mesmo que tentasse fugir da minha família nenhum pouco convencional, minha mãe me arrastou para o norte de Louisiana, o sábado frio que poderia curtir sentada no sofá assistindo a um filme, mas estava lá.
Sentada em uma cadeira de madeira no grama do jardim do funda da casa vitoriana da minha mãe, tentava me perder entre a paisagem enquanto meu irmão contava sobre a garota que conheceu, me pego se perguntando se essa garota realmente existe já que ele conta gesticulando com as mãos com movimentos rápidos e afeminados.
Um dia, talvez depois que minha mãe morrer ele saia desse lugar sombrio que ele se esconde e revele seu gosto por homens barbudos, como os que eu vi na tela do computador dele quando tinha dezesseis anos.

11 de Janeiro
Segunda-feira e a rotina volta, estava caminhando usando meu traje casual para caminhadas matinais, calça legue, tênis, meia acima das canelas finas, blusa regata e um cardigã cor-de-rosa por cima. Estava frio, então de longe reparei em um carrinho de café entre a rua cinco e seis comecei a correr e parei diante ao rapaz de olhos azuis com um avental amarrado na cintura e um boné com uma xicara de café desenhada.
“Um simples”, e ele rapidamente me serviu o liquido escuro em um copo de papel descartável. Um jovem parou do meu lado enquanto dava o primeiro gole.
“É sempre bom ver um desse enquanto corremos”, disse ele com um sorriso no rosto, “me dê um simples, por favor”, ele dava saltinhos, como se não quisesse perder o pique da caminhada ou apenas estava tentando manter o corpo aquecido.
Já que mesmo com aquele frio ele usava uma camisa regata, uma bermuda de algodão e um tênis de caminha preto.
Sorri tentando ser educada, ele sorriu de volta e parou de pular para pegar o copo descartável.
“Está frio está manhã, não está?
“Sim”, disse apenas.
“Prazer, meu nome é Leandro”.
“Leticia”.
“Um belo nome, para uma moça quão bela como ele”, disse ele e deu um gole no café, “Acho que me queimei”.
“Agora está quente”, sorri e olhei nos olhos dele.
No mesmo instante ele olhou nos meus e foi como se pudesse ver nossas almas entrando em uma conexão, corei, tenho certeza de que corei.
“Podíamos fazer deste café um ponto de encontro, o que você acha?”.
Virei o copo e tomando o ultimo gole de café e sorri como se ele realmente fosse entender que a resposta era sim. Joguei o copo no lixo e corri, estava atrasada, fugi da minha rotina, quebrei meu cronograma. Estava fazendo tudo errado.
Coloquei comida para Alex, corri para um banho rápido e durante o trajeto de casa para o trabalho peguei um ônibus.
Em tempo, a secretaria não estava na mesa, peguei os recados anotados em pequenos pedaços de papeis.

LIGAR PARA SRA. WILSON

LIGAR PARA A MÃE

IRMÃO SOFREU ACIDENDE

Soltei o restante dos recados deixando-os caírem no chão, corri. Corri o mais rápido que pude, então rápido que passava em meio as pessoas sem perceber. Estava aflita.
Peguei meu celular e liguei imediatamente para minha mãe.
Ela atendeu com uma voz triste quase como se estivesse chorado ao mesmo tempo que me explicava o que tinha acontecido. Acenei assim que vi um taxi, ele parou e pedi para que me levasse a casa vitoriana da minha mãe aonde ela estava.
Quanto mais me aproximava das ruas com leves camadas de neve branca como a minha pele, mais meu coração se apertava. Vi minha mãe abraçar uma garota, paguei a viajem para o taxista e corri para os braços de minha mãe que se desmanchou em lagrimas.

29 de janeiro
Fiquei uma semana no norte de Louisiana consolando minha mãe pela perca, ainda sentia falta do tagarela. Insisti em voltar para a minha rotina, inseri minha mãe na lista de pessoas que gostaria de ouvir os recados, e eu ligava para ela todas as vezes que ela me pedia, eu a escutava sem deixa-la me ouvir chorar do outro lado do telefone.
Levantei cedo, estava otimista para a caminhada matinal, assim que toquei o gramado do jardim de casa vi Leandro parado me olhando.
“Você não cumpre com o que fala, então te segui durante dois dias para ter certeza de que era aqui mesmo que você morava”, ele disse com aquele sorriso no rosto.
Aquele sorriso.
Ele sabia mais do que qualquer homem como conquistar uma mulher pelo sorriso. Caminhamos juntos, naquele mesmo dia fomos jantar em um restaurante do outro lado da cidade pacata.
Os dias foram se passando e me sentia cada vez mais conectada a ele. Ele me mandava mensagens românticas, e em algumas noites ele ia dormir em casa, assistíamos filmes e series.

29 de Abril
Minha rotina mudou completamente depois que conheci Leandro, ele se tornou parte da minha vida, se tornou parede de mim. Era o nosso aniversario de três meses de namoro e ele me convidou para ir à sua casa, esperei Leandro ligar o dia todo, ele não ligou.
E mesmo que eu ficasse com um telefone em um ouvido e outro no outro eu queria ouvir sua voz. Nosso relacionamento havia durando muito tempo e ele foi o primeiro homem com quem me relacionei por tanto tempo depois da universidade.
Esperei o relógio bater ás quatro da tarde, meu expediente havia acabado, passei na mesa da minha secretaria e deixei alguns papeis de contratos, acenei um breve tchau quando a vi sair de uma outra sala.
Caminhei até a minha casa olhando para o céu nublado, iria chover naquela noite.
Justo naquela noite.
Vi Alex me esperando na janela e a ouvi miar quando entrei. A alimentei e olhei para o celular novamente esperando ver uma mensagem de texto ou uma chamada perdida, verifiquei rede de sinal e estava tudo certo.
Imaginei mil e um coisas que poderiam ter acontecido para ele não me ligar.  Abri o menu de últimos registros e liguei para ele. A caixa de mensagem me avisou que o telefone estava desligado.
“Não vejo a hora de te ver hoje”, disse gravando um recado”.
Tomei um banho e experimentei alguns vestidos, por fim optei em usar um branco na altura dos joelhos, prendi o cabelo em um rabo de cavalo, um colar, pulseira e perfume. O perfume que ele mais gostava.
Sorri olhando meu reflexo no espelho.
Atravessei a casa e sai fechando a porta atrás de mim.
O prédio onde Leandro morava não ficava muito longe da minha casa, ficava entre o carrinho de café e a praça, era um prédio cinza de uns sete andares.
Passei direto na recepção, não queria que avisassem que estava subindo, tentei não ser notada enquanto esperava o elevador.
A porta dupla se abriu e eu entrei, apertei o número cinco que era o andar aonde ele morava. A porta se abriu novamente e caminhei pelo corredor, quando me aproximei da porta do apartamento dele vi que ela estava entreaberta, pousei a mão na maçaneta e me dei vários motivos para não empurrar a porta e entrar, eu tentei me negar a fazer isso. Eu tentei.
Eu sei que deveria ter sido mais persistente, mas tudo que fiz foi empurrar a porta e entrar no apartamento, o lustre da sala estava balançando fazendo a luz iluminar um lado de cada vez.
Vi uma mulher parada no fundo da cozinha, ela estava com a mão no rosto como se estivesse chorando.
Dei um passo à frente para tentar ver melhor. Consegui ouvir a mulher gritar e virei, antes de cair no chão desmaiada por conta da pancada na cabeça eu vi outra mulher atrás mim. Ela tinha cabelos vermelhos como morangos, doces morangos.

__ Este é o seu depoimento – Perguntou o Detetive Jhonny com os braços cruzados atrás do Policial Deston que encarava Leticia sentada de frente para ele.
__ Sim – a mulher descabelada respondeu.
__ Cabelos vermelhos como morangos, doces morangos? – Insistiu Tavares o Delegado.
__ Eles eram vermelhos...
Leticia segurou seus fios de cabelo com a ponta dos dedos afagando-os com força. Ela começou a puxa-los.
__ Fique calma, Srtª. Siqueira, estamos aqui para ajudá-la – Disse Deston.
Ela abaixou as mãos pousando-as sobre o colo.

__ Eu estou calma – ela respirou fundo – ele está bem? Como ele está? Eu vou poder vê-lo?

Comentários

  1. Como ficar calma depois de ver o seu amor com um buraco na cabeça? Me diga Iury Sotos quem foi que matou o pobre homem?

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  2. Mas gente quero logo o segundo capítulo. Não sei se vou aguentar até o próximo. A pergunta que nao sai da minha cabeça é 'quem é a mulher de cabelo vermelho como morangos?'

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