Bárbara - Capítulo 1
Estava andando no centro da cidade, o garoto de estatura baixa, cabelo
escuro e pele mulata. Atravessei a rua para chegar no antes reformado Terminal
aonde tomaria meu ônibus para voltar para casa depois de um dia cansativo de
trabalho. Minha casa ficava do outro lado da cidade e provavelmente o horário
de pico tomaria de trinta a quarenta minutos no transito. Virei para a direito
e sentei entre um pilar e uma Senhora. Ela me olhou nos meus olhos castanhos
escuros e sorriu educadamente como um cumprimento. Tirei a mochila das costas e
a coloquei sob o meu colo.
“Quando a linha 216 chegar você pode, por favor, me avisar, jovem?”.
Olhei para ela e assenti com a cabeça dizendo que sim.
Ela tocou minha mão gentilmente.
“Desculpe-me, mas não ouvi uma resposta”.
Olhei para ela e disse que sim então ela me olhou novamente. Ela usava
um casaco moletom bege, seus dentes eram ligeiramente amarelados, seu cabelo
branco e a pele com marcas de sua idade.
“Eu sou cega”, ela começou então a encarei surpreso, procurei por uma
bengala ou algo que me fizesse ter certeza do que ela disse, “eu sei, não uso
nenhum acessório que me puna por isso. Já andei por toda essa cidade sendo
assim e não quero ouvir os sussurros de menosprezo das pessoas”.
Disse que não havia percebi, ela sorriu e se virou como se estivesse
me olhando. Ela tirou sua mão da minha e começou a falar de si mesma, contando
sua linda história. Então a partir de agora foça minhas, suas palavras.
Primeiros Contos.
Meu nome é Bárbara, com acento agudo no primeiro A. Sempre achei
injusto ser cega, mas devo isso a minha adorável mãe. Nasci no México e fui
criada pelo meu Pai e minha Avó Paterna. Perdi contato com a minha mãe quando
tinha seis anos. Todos falavam que ela era linda, sorridente e feliz, mas teve
um fim trágico e solitário. Nunca vou esquecer da sua voz ou seu nome, já que
ganhei o mesmo.
Embora todas falavam dela de uma forma eu a conheci de outra. Não
enxergava, mas podia sentir as pessoas, podia ver o que chamam de aura. Aquele
brigo de luz resplandecente que emana das pessoas. A maioria das pessoas tem um
brilho magnifico assim como também existem as pessoas que tem uma luz fraca
emanando deles. Minha mãe era uma dessas. Seu brilho era fraco como uma pessoa
ruim e solitária.
Muitas vezes eu a ouvi gritando e jogando as coisas. Ela era bipolar e
foi isso que a levou a morte.
De início meu pai começou a me fazer perguntas sobre alguns objetos,
até que o ouvi falar com minha Avó sobre minha mãe. Ela estava se envolvendo
com um homem, um traficante da região, ela estava se drogando e pegando as
coisas valiosas de casa para vender em troca de algumas drogas.
Outro dia eu a ouvi gritar com a minha Avó, ela falava que o amava e
entre os berros do conflito ouvi a voz do homem por trás disso tudo, a aura
dele era... tentei ver, tentei sentir de onde estava escondida. Mas um som alto
e estrondoso quase me deixou surda. Corri, bati em alguns objetos durante a
minha fuga, mas ainda assim consegui chegar até o meu quarto. Ouvi minha Avó
perguntando a minha mãe o que ela havia feito.
Minha mãe foi presa por assassinato. Meu pai vendeu a nossa casa e
fomos morar com a vovó.
Passou um ano e logo já se ouvia pela casa coisas que meu pai começou
a fazer. Ele ara viúvo e o mais novo mulherengo do bairro. Ouvia vovó reclamar
sobre suas companhias, mas ele se negava em ouvir. Até que uma mulher apareceu
no dia do aniversário da vovó.
Era agosto, e mesmo com o tempo chuvoso, vovó convidou alguns amigos
da família para uma pequena comemoração de seus 53 anos. Ela disse que estava
vestida como uma princesa, ela disse que meu vestido era azul e que meu cabelo
estava preso com uma trança fazendo um coque no alto da minha cabeça. Vovó
dizia que sempre me daria os melhores detalhes de tudo a minha volta, para que
não perdesse nada na minha vida. Reconhecia todas as vozes presentes, a voz
fina que se gabava sobre suas viagens pela costa sul do pais era da Senhora
Menezes, uma velha rica que estava sempre com um carro novo ou um novo namorado
vinte anos mais novo que ela. Depois tinha Vanessa, minha querida amiga, ela
brincava comigo depois que chegava da escola. Ela era uns dois anos mais velha
que eu, mas sempre estava presente. Ela disse que estava linda e confirmou
que estava vestida como uma princesa.
Meu pai chegou e um silencio tomou a sala cheia de visitas. Vanessa me
disse que meu pai estava acompanhado e que ninguém gostava da mulher que estava
com ele.
“Eu quero ela fora daqui”.
Ouvi a vovó falar em direção da cozinha.
Vanessa disse que teria de ir embora por que todos estavam indo. Mais
uns quinze minutos de silencio e começou de novo toda a gritaria.
“Ela é uma vadia qualquer que você conheceu em alguma esquina”, ouvi a
vovó dizer de trás da porta do meu quarto, “nunca mais a traga para essa casa,
não quero nem imaginar que vocês estão juntos, seu cafajeste”.
“Mãe, me dê uma chance lhe apresentar ela”.
“Você sabe que ela trabalha em um prostibulo não muito longe daqui,
claro que você sabe. Foi aonde a conheceu”.
“Eu vou ser pai... ela está gravida”.
Minha avó deu um tapa no rosto dele, ouvi o tapa de onde estava e
depois ela gritou com ela, como nunca a ouvi gritar antes.
Ela o chamou de irresponsável e o lembrou que ele já tinha uma filha.
Corri para a cama, os passos começaram a vir em direção a porta do meu
quarto. Minha avó abriu a porta e depois meu pai entrou e se aproximou pegando
na minha mão ao sentar na cama ele me abraçou forte.
“Querida, eu sinto muito”, disse ele e me soltou.
Meu pai tinha uma aura boa. Ela era brilhante e única, o reconheceria
em meio de outras facilmente, nunca conheci um homem tão bom quanto ele. Ás
vezes ele era uma negligente com as ideias e fazia algumas coisas sem pensar,
mas ele era um bom homem, por isso não me importei com o que ele disse em
seguida.
“Vou morar em outra casa por uns tempos, mas vou vir ver você sempre”.
A vovó sentou do meu outro lado na cama.
“Vou cuidar muito bem da minha pequena princesa. E seu pai será sempre
bem-vindo para te visitar até que ele perceba o grande erro que está
cometendo”.
Assenti com a cabeça concordando com a situação. Não podia perguntar
nada, já sabia o que estava acontecendo e também tinha certeza de que eles não
queriam me preocupar com toda essa situação.
Meus dias com a vovó foram plenos e felizes. Ela fazia de tudo e mais
um pouco para me manter com um sorriso no rosto. Ouvi eles conversarem sobre
meu pai ter perdido o emprego, então ele deu a outra grande notícia. A criança
que a mulher odiada pela minha avó estava esperando não era dele.
Meu pai voltou a morar conosco depois de três dias. Ele conseguiu um
novo emprego em uma agencia de contabilidade. Aonde conheceu a Senhorita Bella.
Ele se casou com ela, apenas uma cerimônia para os amigos íntimos.
Quando completei doze anos ele se tornou sócio majoritário na empresa. Meu pai
foi astuto e nem sei o que fez para conseguir isso de forma rápida.
Ele me matriculou em uma escola particular. E foi quando senti a
verdadeira dor na própria pele.
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