TodoEu - Sem amanhã
Por dias fiquei
pensando nele, várias noites fiquei sem sono me perguntado ‘porque não fiz
isso’, ‘porque não o procurei’. Estava na hora de responder essas perguntas.
Parecia que quanto
mais pressa estava de chegar lá mais demorava, os semáforos fechavam, o
transito estava ruim e mais pessoas queriam atravessar a rua do que antes.
Aquele parque nunca foi tão longe quanto estava sendo agora. Felizmente
consegui uma vaga para estacionar na Madison Street.
Sai do carro
branco e sujo diferente dos outros que estavam estacionados a frente.
Atravessei a rua correndo entre os carros e já estava na frente do Madison
Square Park o que era ótimo, por outro lado começou a chover então corri para
ficar em baixo de alguma arvore que não me molhasse tanto quanto as outras que
passei.
Lá estava ele
segurando um guarda-chuva transparente no meio do parque, o reconheci pelo
cabelo branco meio jogado para trás e dividido ao meio.
“Samuel Tondick”,
disse baixo lembrando da primeira vez que vi seu nome. Ele caminhou em minha
direção e ao se aproximar o bastante ele simplesmente me encarou em silencio.
“Por que não
voltou?”. Perguntei depois de alguns segundos, “Esperava que você fosse ligar e”
...
“Não tive
coragem”, ele se aproximou me cobrindo da chuva com seu guarda-chuva
transparente, “eu queria, mas não tive coragem”.
Involuntariamente
o abracei, assim, simplesmente o abracei, forte e o abraço foi retribuído com a
mão que não segurava o guarda-chuva.
Não sabia o
porquê, mas queria que aquele abraço fosse eterno.
“Você está todo
molhado”, disse ele enquanto me afastava, “podemos ir ali e tomar um café?”.
Disse que sim com
a cabeça, nossa caminhada até o Starbucks mais próximo foi em silencio, tentava
olhar para ele e via que algumas vezes a cada dois passos ele olhava para mim.
Tínhamos uma conexão e tinha certeza disso.
Não muito longe e
nem muito perto entramos no Starbucks, ele pediu um cappuccino e logo copiei
seu pedido, sentamos numa mesa próxima a janela. Coloquei meu copo na mesa
enquanto ele dava o primeiro gole no seu cappuccino.
Ele me contou
sobre o divórcio de seus pais e sobre o fato da mãe estar desmaiada no sofá
após uns goles de whisky. Brinquei que nossos pais dariam muito bem. Então
lembrei do meu pai, e contei para ele que meu pai estava com um tumor que havia
se espalhado para o pulmão e o rim, contei que meu pai estava com os dias
contados e que não tinha dinheiro para pagar a conta do hospital. Contei que
sempre fora só eu e meu pai e que não estava pronto para perde-lo nem mesmo
para ficar sozinho. Disse que já estava vendo uma oportunidade de emprego
quando no mínimo vi um folheto de CONTRATA-SE na frente de uma academia de
luta.
Ele lamentou o
fato de meu pai estar tão ruim e disse que não suportaria se um dia acontecesse
isso com sua mãe. Contou que não acreditava que seu pai tinha uma outra família
este tempo todo e percebi que nossas histórias iam se cruzando a cada assunto,
pois também não tinha mãe e somente depois que ela foi embora meu pai começou a
beber para esquecer o abandono.
Depois ele disse
que não ligava para o pai e que somente se importava com o estado de saúde da
mãe, então ele deu mais um gole no cappuccino, então deu risada por que falou
tanto que seu cappuccino estava frio. Reparei que nem havia tocado no meu,
provei assim mesmo.
O cappuccino
realmente estava frio. Nós demos risadas. Havia apenas alguns adolescentes no
ambiente.
Ele parou de rir e
disse que só queria mesmo era chorar, contei que para eu não se resolvia nada
chorando, na verdade acho que nunca chorei.
Pousei a mão sobre
a mesa e ele colocou a sua sob a minha.
“Você não tem
medo?”. Perguntei a ele olhando para as nossas mãos.
“Não, você tem?”.
Respondi não com a
cabeça.
“Precisava disso,
precisava desabafar com alguém e conhecer um pouco mais sobre você”.
“Por que precisa
me conhecer?”.
Quando ele me
olhava nos olhos parecia querer explorar a fundo o meu ser, acho que essa era a
sua verdadeira intenção, tentava olhar para outra coisa como o pote com palitos
de dente ou para fora pela janela, mas era impossível teus olhos me puxavam como
um imã potente fazendo seu melhor desempenho.
“Você está frio”,
observou ele.
“É assim que me
sinto também”.
“Poderíamos fazer
isso amanhã também, sentar e conversar”.
Ele sorriu.
“E se você não
voltar como fez na primeira vez?”.
“Eu volto, eu
prometo. Quero muito ficar com você”.
Deveria ter dito
alguma coisa quando somente fiquei em silencio olhando para ele. Ninguém nunca
fez o que ele estava fazendo, Samuel Tondick era o único que me fazia ficar bem
mesmo quando me sentia sem saída. Era horrível se sentir assim, mas quando
estava com ele tudo mudava. Era estranho se sentir bem e não em um campo de
batalha.
“Eu sei que isso é
uma coisa nova para você, mas não me importo em esperar, eu espero quanto tempo
você precisar para entender isso”.
“Não preciso de tempo”,
respondi rápido.
Naquele momento
poderia estar confuso com algumas coisas, mas com aquilo. Aquilo que sentia
quando ele olhava para mim.
Meu coração batia
mais forte e tudo que vinha na minha cabeça era uma música da Lea Michele, Whats
is love? O que é o amor, é algo que faz a alma estremecer como um terremoto, o
amor é uma loucura de sentimentos por que você não quer se sentir assim e ao
mesmo tempo está feliz por estar amando alguém.
Sabia o que estava
sentindo e queria que toda aquela sensação que corria pelo meu corpo com um
frio na barriga continuasse por quanto tempo possível.
E ele continuava a
me olhar em silencio parecendo estar procurando defeitos ou algo a mais para se
apaixonar. Não estou me gabando, mas sei que sou lindo é uma das únicas coisas
que puxei para minha mãe.
“Sim”, disse em
voz alta como se alguém tivesse me perguntado algo, mas foi apenas a minha
mente com um turbilhão de pensamentos, “eu quero ficar com você, mas não só ficar
e amanhã não poder te ver, eu quero ficar com você até que isso que estou
sentido acabe”.
“E se acabar
amanhã”.
“Se não pensarmos
nisso não vai acontecer”.
Estacionei o carro
na frente de casa e logo atrás Samuel estacionou sua moto. Entramos e para
minha surpresa a casa estava uma bagunça como sempre.
Tentei arrumar
algumas coisas como o sofá e jogar as coisas que estava no caminho para fora do
caminho. Então ele segurou meu braço.
“Não me importo
com isso”, Samuel me beijou fazendo me corpo arder como se uma brasa fosse se
acendendo dos pés à cabeça.
Ele tocou minha
nuca e entrelaçou os dedos no meu cabelo.
Seu toque, pensei.
Ele jogou sua
camisa se lado e pude ver sua pele branca como papel, ele era magro e sem
muitos músculos. Ele segurou na minha cintura e eu segurei em seu cinto de
couro puxando-o para o quarto.
Comentários
Postar um comentário