Bárbara - Capítulo 2

Doce Guerreira.

Estava no meio do ano, era uma das últimas semanas de aula. Estava cansada e completamente insegura na sala aonde estava. Vovó comprou uma máquina braille para me ajudar nas aulas. Ela fazia um bipe cada vez que o espaço da folha acabava para fazer girar a folha e dar mais espaço para fazer as anotações. Cada vez que o som se repetia dois garotos repetiam o ruído baixo para que a professora não ouvisse.
Ela estava ditando a matéria, era a melhor forma de me fazer entender. Deveria ter tido mais paciência ou usado outra forma de me impor. Mas tudo estava tão errado. As formas como eles me tratavam, como falavam comigo. E mesmo que a professora os repreendessem eles continuavam em outras aulas ou no intervalo.
Era injusto.
Contei para a vovó o que estava acontecendo e ela foi até a escola conversar com os coordenadores. Eles me colocaram em uma sala fria, sentada de frente aos dois garotos denunciados. Eles tinham a aura como a da minha mãe.
Eles eram ruins, destinados a ter a alma condenada. Eram maldosos por puro prazer. Eles sorriam enquanto me zombavam no refeitório, eles gargalhavam enquanto me cutucavam com abjetos pontiagudos na sala de aula.
Vovó me fez contar como me sentia, ela me fez chorar perante os dois, o Diretor da escola se disse estar horrorizado com aquela situação, ele pediu perdão para minha avó e disse que chamaria os pais dos alunos para uma conversa. Ele até a encorajou a processar os alunos por assédio moral.
Voltei para a aula, estava calma novamente, podia me concentrar na aula sem me preocupar com novas agressões.
Ouvi os dois garotos entrarem na sala de aula. Depois ouvi alguns murmurinhos.
Fiquei com medo, minha pele se arrepiou, senti frio. Comecei a mexer as pernas como espasmos do meu medo se liberando pelo meu corpo com se aquilo fosse uma reação do que estava sentindo.
“Vou sair por um minuto, mas terminem o exercício, vou recolher assim que voltar”, disse a Professora, ouvi a porta abrir e depois fechar.
Mexi a cabeça para os lados, estava desesperadamente mostrando o que quanto estava assustada. Ouvi barulhos das cadeiras e depois senti um toque no meu pescoço.
“Vai chamar a vovó agora?”.
Ouvi o garoto falar bem perto do meu ouvido.
“Deixe-a em paz, Gregory”.
Era uma das meninas que sentava sempre nos fundos.
Como um susto ele grudou seus dedos frios no meu cabelo puxando-o para trás. Eu gritei com a dor e pude ouvir o espanto dos outros alunos que se levantaram gritando para ele parar.
“A ceguinha está com mais medo agora”.
Não era uma pergunta, ele queria me fazer sentir medo. Estava tremula em sua mão, fechei os olhos e ele segurou com a outra mão o meu pescoço e o apertou. Uma raiva cresceu dentro de mim.
Estava furiosa por me sentir tão impotente, estava com raiva de eu mesma por me sujeitar a me sentir assim.
Segurei a mão que estava no me cabelo e pechei o dedo para trás fazendo-o gritar. Ele estava com dor agora. Havia acabado de quebrar seu dedo.
E me senti aliviado por isso.
Ele soltou meu pescoço e eu me levantei jogando minha mão na cabeça dele batendo-a na mesa. Aquilo era ótimo. A sensação de prazer correu pelo meu corpo. Gregory caiu no chão e segurou minha perna tentando me derrubar. Me apoiei em cima da mesa e peguei um lápis. Me abaixei e cravei o lápis no ombro dele.
Fiquei segurando o lápis, ouvi o grito dos alunos anunciando a chegada da Professora. Ela gritou.
Sentia seu sangue quente na minha mão. Senti minha roupa ficar molhada de sangue. Ouvi o garoto que me fez chorar chorando. Eu sorri. Estava feliz. Dei um fim a toda a raiva que estava sentindo antes daquilo. Foi pleno, agora eu estava em paz.
A Professora me tirou de cima dele, ligaram para o meu pai, mas minha Avó foi até a escola. Eles me colocaram na mesma sala fria. Minha avó disse que meu vestido rosa estava todo sujo de sangue.
Ela estava muito preocupada e não parava de perguntar o que havia acontecido. Por que estava suja.
A professora entrou na sala e o Diretor lhe deu a palavra.
“Conversei com os alunos, Senhora D’Paula, eles me contaram que Bárbara estava se defendendo, o aluno Gregory estava agredindo-a e ela cuidou disso. Não da melhor forma, mas os alunos garantiram que o Gregory tentou enforca-la”.
“A escola está totalmente ao favor de Bárbara, foi autodefesa, tem testemunhas, os pais de Gregory provavelmente vão entender isso antes de entrar com algum processo”.
Minha avó me abraçou. Ela abraçou forte como fazia todas as vezes que me via chorando.
“Minha princesa se tornou uma grande guerreira”, ela sussurrou em meu ouvido”.

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