TodoEu - Era Ele

Era Ele

Tem aquela pessoa que quando você olha seu mundo inteiro se desmorona, aquela pessoa que só com um sorriso faz com que seu coração dispare em seu peito. Aquela pessoa que te faz sentir como se estivesse flutuando, é assim que me sinto quando olho para ele.

Do outro lado da linha era apenas um chiado, um longo chiado e a ligação caiu antes que tentasse dizer algo em protesto. Guardei o smartphone no bolso do jeans e liguei a câmera me posicionando para começar a tirar as fotos. Os Gêmeos Oclen não eram idênticos, eles tinham suas diferenças, J. Oclen era o mais auto de olhos verdes, seus lábios eram mais rosados e seu cabelo espetado para cima com um topete, já Y. Oclen sempre manteve o corte de cabelo baixo, sua boca era mais delineada e seu sorriso perfeito, tinha pouca diferença em altura, ele fazia a linha mais roqueira, usava sempre couro e tons escuros enquanto seu irmão roupas claras e coloridas. Ele tinha os olhos da cor do céu nublado, cinza como o fundo aonde eles estavam posicionados.
J. Oclen arrumou o casaco de pele e neste momento comecei os disparos com a câmera, eles se olharam e ali vi a imagem perfeita. Ambos sabiam o que estavam fazendo, não era a primeira vez que os fotografava, era como um fotografo particular para eles e mesmo que sua família mais poderosa fosse eles preferiam a mim do que a um estranho.
O estúdio foi algo montado especialmente para os dois. Seus pais não ficavam na cidade e as fotos tiradas neste dia seria exatamente para ser exposta na festa que eles dariam no dia seguinte.
Os gêmeos Oclen eram os melhores no que estavam fazendo.
Finalizei e eles viram foto a foto, V. Dist não deixou de fazer elogios a J. Oclen.
“Espero que não se esqueça da festa de amanhã”, Y. Oclen disse me acompanhando até minha moto, “Não haverá desculpas para isso, não venha fazer o mesmo que no verão passado”.
“Prometo que vou vir, não haverá desculpas”, sorri e acenei para J. Oclen que estava conversando com V. Dist próximo a porta do estúdio, “Será que finalmente vou conhecer essa tal de T. que você tanto fala?”.
“Sim, e como um favor pedi para ela trazer um amigo, acho que você vai gostar dele”.
“Não preciso de um namorado, preciso terminar o meu trabalho para o curso, somente isso”.
Dei risada e Y. Oclen me abraçou rápido ante que subisse na moto e a ligasse.
“É a última festa antes que de voltarmos para a Universidade, espero te ver aos beijos com o rapaz nos arbustos como no final do ano”.
Colei o capacete e sorri tentando não trazer as lembranças à tona.
“Não vai acontecer de novo”.
Disse e arranquei com a moto, voltando para casa. Esperava ver minha mãe dormindo no sofá com uma taça de vinho na mão prestes a cair por entre seus dedos, esperava ouvir meu pai chegar do trabalho após várias reuniões da empresa, depois esperava ouvir do quarto a discussão de meus pais que gritariam para todos do prédio ouvirem. Era o que acontecia quase sempre.
Só não esperava ser minha tia G. Faltem assim que abrisse a porta do apartamento.
Ela cuspiu um ‘olá’ com arrogância quando fechei a porta atrás de mim, a mulher com um vertido cinza me encarou da cabeça aos pés como se estivesse se perguntando aonde estaria, esperei ela terminar de questionar sobre a hora que estava chegando, esperei que ela dissesse as mesma coisas de sempre, que minha mãe fica muito tempo sozinha, que precisava dar mais atenção para ela, que deveria esvaziar o bar para que ela não bebesse tanto já que ela se sente tão sozinha pelo fato do meu pai nunca estar em casa.
Esperei uma eternidade, mas enfim fui para o quarto antes mesmo dela terminar, se ficasse ali simplesmente parado fingindo ouvir como se não soubesse o roteiro da conversa ela continuaria por mais duas horas até se cansar e sentar na sala para repetir as mesmas coisas.
G. Faltem é aquele tipo de tia que não desejo para ninguém, ela é intrometida, das opiniões exageradas sobre os fatos e só sabe fazer três coisas, comprar coisas caras, mostrar as coisas para minha mãe e fazer sobre o casamento dos meus pais.
Não muda nunca, como um disco riscado. Fechei a porta do quarto assim que a ouvi vindo em direção ao quarto abordando o assunto ‘você só fica na rua’ pela decima vez.
“Acho que você está usando drogas, jovem”, ela continuou do outro lado da porta, “quando você se assumiu gay eu não disse nada”, mentira que foi a primeira a opinar, “mas se você continuar nesta de usar drogas vou te internar em uma clínica de reabilitação”.
Enquanto ela ficava disparando palavras para a porta ouvir me despi e entrei na ducha refrescando o corpo e a mente, não tem hora melhor do que a hora do banho para mim. É como se tudo o que existisse se ruim acabasse naquele momento, como se todos os problemas descessem pelo ralo. A água quente deslizava pelo meu corpo me trazendo paz interior.
Sai do banho e me enxuguei com uma toalha branca. Não escutava mais ela, provavelmente minha mãe acordou de seu sono pesado - pós bebida – e ela foi encher minha mãe com os mesmos discursos.
Sentei na frente do notebook com a toalha enrolada na cintura e finalizei meu trabalho. Deixei que imprimisse e lá ele ficou.
Peguei no sono antes de me vestir, estava na cama sem perceber, não havia dormido na noite anterior, o trabalho estava adiantado e só teria de ser entregue na segunda, aproveitei para dormir até tarde no sábado.

Quando acordei a toalha estava caída no chão e o smartphone vibrando freneticamente em baixo do meu travesseiro. Tinha quatro chamadas perdidas de J. Oclen.
Levantei da cama e fui para o banheiro, fiquei me olhando no espelho por alguns minutos, havia emagrecido, era possível ver por causa das minhas bochechas que haviam afundado no meu rosto, minha pele estava muito pálida, provavelmente por causa da falta de sol.
Ou até por que meu cabelo extremamente branco causava alguma mudança no meu tom de pele, não sei.
Dentro do closet olhei a minha volta, examinando cada cabide com as roupas penduradas, só estava procurando por algo adequado. Fitei um blazer cinza de pequenas bolinhas brancas, seria aquele mesmo. Vesti uma cueca preta e depois uma calça social preta camurça, procurei pela camisa de gola alta branca e a vesti assim que a encontrei, coloquei o blazer por cima. Liguei o secador de cabelo e sequei o meu cabelo no jato de vento quente. Penteei o cabelo para trás, era assim que eu gostava dele, de certa forma ele estava divido ao meio e puxado levemente para trás. Calcei meus sapatos social preto. Acho que dormi muito.
Agora era só passar pela onça na sala e ir para a festa. Por que provavelmente minha tia ainda estava em casa, ela passava as noites em claro esperando apenas uma oportunidade para me atormentar. Ela praticamente era mais mãe do que minha própria mãe. Peguei o smartphone olhando a hora no visor e sai do quarto. Estava tarde e com certeza a festa já havia começado.
G. Falten não estava na sala quando abri a porta e sai sem ser notado.
Poucos minutos depois já estava acelerando a moto saindo do estacionamento subterrâneo. As ruas estavam movimentadas, mas com uma moto em Nova York você não precisa ficar parado num congestionamento. É só seguir seu caminho. Trinta minutos depois estacionei a moto na frente da Mansão Oclen. Os pais dos gêmeos estavam viajando, eles decidiram dar aquela festa para se divertir, já que era a última semana de férias do Cornell University.
Era possível escutar a música que o DJ tocava do estacionamento na frente da mansão. Alguns garotos bebiam no jardim próximo aos carro e motos. Percebi que estava tocando uma versão remixada de Summer. Caminhei em meio aos garotos que brincavam com as bolas coloridas que eram somente para decoração, pelo menos foi o que J. Oclen me disse durante a sessão de fotos me dando detalhes sobre a festa. Dentro da mansão, uns shows de efeitos de luzes psicodélicas de várias cores tomavam a sala, a música alta fazia com que todos dançassem. A música acabou e logo iniciou outra versão remixada de Blame. Imaginei que quem teria feito a lista das músicas da festa seria sido J. Oclen.
E para a minha surpresa eu o ouvi gritar ao meu lado.
"Essa é minha Música", e todos gritaram empolgados.
Ele começou a se esfregar em V. Dist fingindo saber dançar.
Uma fumaça inundou a sala e feixes de luzes vermelha e verde atravessavam a fumaça dançando no ritmo das batidas da música.
As pessoas pulavam segurando copos vermelho cheio de bebida alcoólica, alguns estavam se beijando em grupo. Uma menina estava sentada no colo de outra beijando-a como se fosse devora-la assim que terminasse a pegação no banco no fundo da sala.
Fui para a sala de jantar. A mesa de vidro que ficava no centro da sala não está ali, com certeza estava em algum dos cômodos vazios da mansão. Y. Oclen estava teclando no smartphone com os olhos vidrados. Ele não teria me notado se não tivesse me aproximado o suficiente para isso.
"Ela não me atende", disse ele gritando para o smartphone.
Ele estava usando uma bermuda vermelha e a camiseta branca estava destacando seu corpo magro. Seu topete alto estava com uma cor diferente, as pontas estavam azuis. Ele sorriu olhando para mim.
"Eles chegaram", Y. Oclen disse animado, "pedi para a T. trazer um amigo para você, acho que você vai gostar dele".
Y. Oclen segurou minhas mãos e me puxou de volta para onde eu estava, conforme andávamos no meio dos jovens aloucados tentava me soltar, mas era impossível pois a persistência dele era nítida, ele me puxava mais forte para tentarmos passar no meio da multidão. Neste momento só queria saber de onde os gêmeos Oclen conheciam tantas pessoas. Ele me puxou até a porta e eu fiquei parado olhando ao redor.
"Eles quem?", perguntei...
Ele apontou para um carro velho saindo fumaça ao lado da minha moto.
Corri em direção pensando somente na possibilidade daquele carro explodir e minha moto também. Mas quanto mais eu me aproximava eu reconhecia o garoto que mexia no carro com o capo levantado sob a cabeça.
Parei de correr, e apenas caminhando lentamente minha mente foi criando várias possibilidades para ele estar ali, aquele mesmo garoto. Minha boca estava aberta com tamanha coincidência. Ele... Era ele.
"Amor, este é o L. Sulmen".
O garoto levantou a cabeça e olhou diretamente para mim. Ele me encarou e sorriu

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