TodoEu - Samuel
Samuel
Eu sei de tudo o
que sinto, sei todos os meus segredos, sei de tudo, só não sei o porquê de meu
coração ainda insistir em se apaixonar tão facilmente.
Não sou comum,
gosto de mudanças radicais como cortar o cabelo pouco a cima dos ombros e
descolori-lo até deixar em um tom branco. Sei que isso ressalta meus olhos
verdes, é uma das verdades, mas também nunca gostei do normal, o diferente me
chama atenção.
Era quase meio dia
quando o Professor do meu curso de fotografia passou o último trabalho, era a
nota final e seria essa que diria se me formaria naquilo que sempre quis. Meu
sonho dês de pequeno era sair das minhas comodidades e fotografar, sair por aí
apenas coletando as melhores imagens possíveis
O último trabalho
seria fotografar pessoas, aquelas com as mais diversas atitudes e teria de
capturar as atitudes com apenas o meu olhar. Pelo menos foi o que o professor
disse. Mesmo com um curto praza deixei o trabalho para o dia seguinte.
Acordei logo cedo
tomei café da manhã em uma cafeteria na esquina do prédio aonde morava com os
meus pais no centro de Nova York.
Vestia preto, isso
incluía a bolsa de couro que guardava a câmera pendurada no ombro esquerdo.
Sai de arrancada
na minha motocicleta, uma Bobber preta, parei em alguns pontos de Nova York
afim de encontrar os lugares e as pessoas certas para fotografar. Parado no
semáforo vislumbrei a ponte do Brooklyn e logo percebi que se quisesse tirar
fotos realistas de pessoas com atitude no olhar teria de ir para o outro lado,
como não havia pensado nisto antes, as pessoas mais influentes que conhecia
tinha passado pelo Brooklyn.
Atravessei a ponde
do Brooklyn e depois de algumas quadras percebi que estava cercado por casas
iguais, altas e feitas de tijolos vermelhos.
Algumas ficavam no
alto de alguns degraus e foi perto dessas casas que encontrei D. ele tinha o
olhar que procurava, o mistério nas duas linhas sinuosas que seus lábios
formavam, o cabelo louro emaranhado em um coque no alto da cabeça, a calça
jeans rasgada na altura do joelho, a jaqueta de couro vermelha cobrindo a
regata branca encardida. Esse era D.
Ele teclava algo
em seu smartphone antes de me encarar e perceber que estava sendo fotogravado,
ele sorriu, acho que já estava familiarizado com a câmera, ele passou a mão na
barba por fazer e sorriu deixando ser capturado pela lente retrátil da câmera,
seu sorriso era como um brilho radiante que combinava com seus olhas castanhos
claro, sua boca rosada e as sobrancelhas grossas, aquele homem era de uma
perfeição inacreditável.
Sorri quando
descansei a câmera deixando-a pendurada no pescoço, ele sorriu e me aproximei.
Ele se apresentou como D. Wichimer, disse algo sobre uma breve carreira como
modelo – eu imaginei.
Ele foi educado,
embora não tivesse pedido permissão para fotografa-lo disse que poderia usar
sua imagem para o trabalho do curso.
Quando pensei ter
terminado, caminhando um pouco mais à frente encontrei uma turma sentada nos
degraus de uma casa na cor cinza. A japonesa com o cabelo dividido ao meio
amarrado tinha a franja branca como meu cabelo, uma morena estava sorridente
enquanto escutava algo em seu fone de ouvido vermelho, um garoto riu alto
usando um óculos e lentes redondas e espelhadas, a garota de cabelo cinzento
havia dito alguma coisa para ele.
Mas somente um
entre eles me chamou atenção... A franja caindo sobre os olhos, a bermuda num
tom jeans escuro desfiado até os joelhos, o tênis de cano longo subindo um
pouco acima dos tornozelos e a meia branca até a panturrilha, ele sorriu e eu o
fotografei.
A camiseta regata
preta com uma estampa pouco convincente de algo não muito colorido, ele parecia
discreto o suficiente para eu querer desvenda-lo. A jaqueta jeans escura caindo
perfeitamente em sua silhueta, ele sorriu deixando o que havia achado perfeito
ainda mais perfeito. Seu sorriso era como um rio de emoções, seus lábios avermelhados
dava um contraste perfeito em sua pele branca, com o zoom da câmera pude
enxergar perfeitamente seus olhos castanhos que brilhavam como seu sorriso.
Ele me olhou
percebendo minha presença, impulsivamente sorri como se não estivesse
envergonhado de estar encarando seus olhos. Girei levemente a lente da câmera
para aproximar mais o zoom e neste mesmo instante a garota de tranças finas
tomou o espaço da imagem para ele. Ele se aproximava com pressa como se fosse
me atacar do outro lado da rua.
E mesmo que a
câmera tivesse saído do foco os meus olhos não queria parar de olhar para o
garoto.
Como uma louca a
garota das tranças gritou comigo, perguntando o que estava fazendo, se eu era
um louco, ela gritava como se tivesse cutucado a ferida mais profunda dela.
"Hey",
gritou ela chamando minha atenção.
Ela me tirou da
hipnose do olhar do garoto do outro lado da rua e continuou gritando quando a
fitei com os olhos verdes arregalados pelo susto, rapidamente enquanto ela
estava aos gritos repetindo o que já havia dito peguei um pedaço de papel e
anotei meu nome e meu número de telefone.
Aonde estava com a
cabeça?
"Dê o número
para aquele garoto".
"Mas quem
diabos é S. Tondick?".
"Sou
eu". Disse a ela, olhando minunciosamente as tranças finas em seu cabelo.
Ela cerrou os
olhos, e voltou para trás juntando-se novamente com seu grupo
Guardei a câmera
na pequena bolsa de couro e comecei a caminhar de volta para a minha
motocicleta que havia deixado quadras dali.
Acelerei saindo
daquele bairro, atravessei a ponte do Brooklyn e alguns minutos depois estava
me aproximando dos grandes prédios do centro de Nova York, logo estava
preparado para a minha verdadeira realidade, morar com os pais que eu mal
converso para não ter que falar sobre minha sexualidade, Não cumprimentei o
porteiro do prédio o Sr. D. quem começou a fazer comentários maldosos sobre o
assunto com os outros moradores, mas isso não me afetava, só me fazia ficar com
mais raiva dele, o que nem se devia muita força de vontade já que o velho
estava sempre gritando: "Não pise no tapete", "Eu odeio essas
crianças"...
O Sr. D. morava no
primeiro andar, no apartamento de número três. Acima dele vivia uma família que
ele mesmo expulsou. Ele falava sobre os barulhos noturnos, e só depois de uma
inspeção da vigilância sanitária descobrimos que era ratos nas tubulações do
ar-condicionado.
Que a verdade seja
dita, o velho arrumava encrenca com qualquer um.
Estacionei a
motocicleta de frente ao prédio, sabia que logo depois de mais uma discussão
iria sair por ai vagando e vagando.
Entrei e passei
pelo porteiro como se ele não existisse ou respirasse, apertei o botão para
chamar o elevador, a porta dupla se abriu exibindo-me no espelho do chão ao
teto cromado. Entrei e apertei outro botão que fechou a porta. Me examinei no
espelho, amava o que vestia, normalmente sempre o preto predominava, mas
naquele dia estava todo de preto, o sapato a calça jeans a camiseta e a jaqueta
de couro, tudo no mesmo tom. Preto.
No oitavo andar o elevador
parou, abriu as portas novamente e sai. Caminhei pelo corredor até chegar a
porta do apartamento.
Abri a porta que
estava apenas encostada e vi minha mãe sentada no sofá chorando.
Pensei em
perguntar o que havia acontecido, mas desisti, toda vez que ela estava daquele
jeito sentada no sofá chorando era por causa do meu pai.
Tentava me
importar com ele, em vários momentos da minha vida no ensino médio eu tentei.
Mas ele nunca retribuiu a importância que lhe dava, quero dizer, eu precisei
dele várias vezes, mas das diversas ele estava no bar bebendo com os amigos ou
em um outro lugar que não fosse comigo. No dia do meu último aniversario ele
disse que bebia por minha causa, como se eu o obrigasse a fazer isso.
Caminhei até a
cozinha, e vi uma mesa farta, um assado, taças e um vinho de nossa adega. Minha
mãe também estava tentando. Fazendo todo aquele jantar para receber o marido ausente
em casa.
Tem momentos que
queria ter um irmão ou irmã para conversar sobre tudo o que gira na minha
cabeça, algo sobre odiar ter um pai ausente ou talvez dizer que não somos a
família perfeita que todos veem nos jantares em que somos convidados, mas em
outros momentos sou grato por não ter, ele ou ela sofreria da mesma forma que eu
sofro, chegando em casa e vendo nossa mãe chorando no sofá.
Meu smartphone
vibrou no bolso da minha jaqueta de couro preto, entrei no meu quarto e joguei
a bolsa com a câmera em cima da mesa de vidro próxima a porta e atendi a
ligação.
"Você vai
vir", logo reconheci a voz de J. Oclen, um dos gêmeos. Fiquei de
fotografa-los hoje anoite, "Estamos aqui te esperando, as garotas estão ansiosas".
Ele parecia mais
ansioso do que as garotas que gritaram um breve olá do outro lado.
"Já estou a
caminho".
Peguei a bolsa de
couro da câmera e corri até a porta da sala, olhei para os lados procurando
minha mãe, ela não estava mais chorando no sofá. Olhei para o bar, ela estava
encostada nele com uma garrafa de Whisky nas mãos, ignorei o fato dela também
estar tentando estar ligada ao papai.
Abri a porta e
corri até o elevador. Sem apertar nenhum botão a porta se abriu.
Entrei e apertei o
botão para ir ao térreo. Lá sai sem me importar em cumprimentar o velho que
gritou algo sobre não deixar a motocicleta parada em frente ao prédio.
Passando a alça da
bolsa de couro para o ombro esquerdo girei a chave na moto e a acelerei.
Dez minutos depois
de muitas curvas estava na casa dos gêmeos.
J. e Y. Oclen
estavam no estúdio, algumas garotas que eles haviam contratado para fazer a
produção da sessão de fotos deles estavam passando um pó-compacto no rosto
deles. J. Oclen se levantou da cadeira e me abraçou, ele era sempre bem
convidativo, os abraços dele eram os melhores, apertado e confortável como
abraçar uma coberta de veludo.
V. Dist, seu
namorado, quero dizer, V. Dist estava ficando com J. Oclen há uma semana, já
que ele troca sempre de namorado. V. Dist me olhou ciumento, minhas
preocupações não estavam nele naquele momento, mas sim, no meu trabalho.
Meu smartphone começou
a tocar, POISON. Coloquei a câmera de lado para atendê-lo. Olhei a tela do smartphone
e estava escrito número restrito.
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