TodoEu - Leonardo

Leonardo

Tenho meus próprios desejos, tenho meus próprios medos, tenho um sonho, posso cair a qualquer momento, posso jurar amor a uma mulher mesmo que for somente para usá-la, talvez um dia aprenda o verdadeiro prazer pela vida.

A minha ligação foi atendida, mas não ouvia nada do outro lado da linha... deixe-me explicar como tudo isso começou...
Estava conversando com alguns amigos na escada da casa da Talita, ela realmente é minha melhor amiga, sempre estamos juntos, Talita é o tipo de garota que um garoto pode confiar seus maiores segredos, mesmo ele não tendo nenhum.
Somos amigos desde que cheguei a cidade, ela foi a primeira pessoa que falou comigo na escola, então se formamos juntos e até hoje confiamos um ao outro, confiamos na nossa amizade.
Talita olhou no outro lado da rua e viu um garoto todo bem vestido nos fotografando, ele era incrivelmente diferente de todas as coisas que já havia visto, ele usava somente preto, e seu cabelo escorrido dividido ao meio era branco como a única nuvem no céu azul. O encarei por alguns segundos até ver Talita caminhar para perto dele. Ela gritou algo sobre o por que dele estar tirando fotos nossas, mas ele parecia fútil demais e a ignorou entregando a ela um pedaço de papel. Talita voltou com uma cara de espanto ou surpresa. Ela me puxou de lado e me entregou o papel.
"Ele disse que é para você", sussurrou ela no meu ouvido.
Sem entender guardei o papel no bolso. Tinha um nome nele e um número de telefone. Samuel Tondick, ele realmente parecia ter um nome do tipo Playboy. O garoto caminhou saindo da nossa vista. Voltei a ignorar o fato daquilo ter acontecido. Não ligaria para ele, não sou do tipo de cara que liga para outro cara, eu curto garotas, daquelas bem peitudas, gosto de pega-las e usa-las e joga-las fora como todos os caras da periferia faz.
Mas mesmo assim não consegui tirar o jeito que aquele garoto do cabelo branco me olhou da cabeça. Ele parecia irresistivelmente bonito, na verdade não acho homem bonito então retiro o que disse.
Mais tarde cheguei em casa, a única casa baixa no meio de dois sobrados no alto de quatro degraus abri a porta de madeira marrom e entrei, de cara ouvi meu pai gritando, corri para a cozinha assim que fechei a porta atrás de mim, ele estava sozinho gritando com o vento, percebi que ele estava bêbado. Com certeza algo que seus "amigos" colocaram em sua bebida, no caso é essa a desculpa que ele dá todas as vezes que questiono o fato dele ter voltado para casa bêbado. Mas este é meu pai, um alcoólatra que nem mesmo se importa em dar um bom exemplo para o filho. Como muitos dos garotos da minha idade ali no Brooklyn ou você tinha mãe ou pai, nunca os dois. Acho que até hoje vi somente uma família completa morando no bairro na minha quadra.
Minha mãe nos abandonou depois que completei sete anos, meu pai diz que ela morreu, mas mesmo assim ele recebe uma grana de uma mulher misteriosa chamada Luzia, todos os meses o nome do remetente muda, o último foi Luzia. Por algum motivo tento não me importar.
O que é uma tentativa falha quando se tem um pai que cai toda vez que bebe, só que dessa vez foi um pouco pior. Enquanto olhava a hora no smartphone ouvi um barulho vindo da sala, meu pai estava caído em cima de um vaso de cerâmica que fiz na sétima série, saia sangue de sua cabeça onde ele havia caído, segurei ele nos braços e o arrastei até o Gol na frente de casa. Verifiquei se minha carteira de motorista estava no bolso e senti atrás dela o papel que o garoto do cabelo branco havia anotado seu nome que parecia ridículo para aquele momento. Liguei o carro e arranquei em direção ao hospital. Meu pai estava no banco de trás, ele acordou quando nos aproximamos do hospital mais próximo.
"O que você está fazendo, Leonardo?", perguntou ele, ignorei quando vi que ele percebeu o sangue saindo de sua cabeça.
Parei próximo o hospital, sabia que ele entraria e faria apenas um curativo, mas aquilo já estava ótimo. Ajudei meu pai a sair do carro e caminhamos juntos até a recepção, falei com uma mulher loira e linda que pareceu dar mole para mim. Gostava disso, queria conquista-la, usa-la e depois chutar sua grande bunda gorda.
Este sou eu.
Não demorou muito e meu pai foi levado por um Doutor. Coloquei as mãos no bolso da jaqueta de couro preta e novamente senti o pedaço de papel. O tirei do bolso.
Examinei atentamente a letra genuinamente escrita, era tão gay a forma que aquele garoto escreveu no papel. Samuel Tondick. Disquei o número que estava escrito no papel no visor do smartphone, não estava acreditando no que estava fazendo até escutar a respiração do outro lado da linha. Então a ligação caiu.
"Quem está com o Senhor Sulmen?", perguntou o Doutor que levou meu pai para uma outra sala.
Levantei a mão e ele se aproximou usando um jaleco branco e sapatos no mesmo tom.
"Está tudo bem com ele? Já posso leva-lo embora?"
Ele fechou o sorriso quando terminei as perguntas.
"Seu pai terá de fazer alguns exames, ele vai passar a noite aqui".
"Posso falar com ele?"
"Ele tomou um remédio para dormir, ele se alterou um pouco lá dentro, creio que você possa ir para casa e voltar amanhã cedo, deixe seu número de telefone com a recepcionista e qualquer coisa iremos entrar em contato".
Assenti e caminhei até a loira gostosa, não sabia que seria assim que ela anotaria o meu número de telefone.
Dei meia volta e sai do hospital, não me importei com o fato do meu pai ter de ficar no hospital, afinal, ele só ia fazer alguns exames por conta de ter caído e batido a cabeça, só isso.
Caminhei um pouco e entrei no carro. Voltei para casa, que agora estava silenciosa. Não havia ninguém girando bêbado na sala, nem mesmo batendo às portas do armário na cozinha. Sentei no sofá me esquecendo de ligar a tevê para assistir, aos poucos fui deitando e peguei no sono.

Acordei com a luz do sol entrando pela janela da sala com vidro quebrado, havia algumas semanas que aquele vidro estava quebrado, foi graças a um garoto que jogou a bola dentro de casa. Olhei no visor do smartphone e quatro ligações perdidas de Talita. Ela realmente queria falar comigo, para ter ligado quatro vezes era muito importante.
Retornei a ligação.
"Oi", disse sentando no sofá.
"Idiota, você me deixou preocupada", ela disse apressadamente.
"O que eu fiz?".
" Não atendeu às ligações".
"Fui levar meu pai no hospital, ele bebeu caiu, bateu com a cabeça e ficou lá para fazer alguns exames".
"É grave?"
"Isso vou ver depois que perder a preguiça para um banho e ir até o hospital".
"Tudo bem, te vejo naquela festa que te falei ontem".
"Como assim, disse que não iria".
"Você vai, preciso de uma carona, e isso quer dizer que preciso do meu amigo para ele ser útil".
"É festa para bacanas", questionei, só iria ter riquinhos lá.
"Te acho bacana, vou na sua casa as oito horas".
Ela desligou na minha cara deixando-me de boca aberta, eu queria terminar de falar. Mas Talita sempre faz isso, e de alguma forma ela me convence. Não faz sentido ela namorar um bacaba, quero dizer, ficar com bacanas, depois que um de nossos amigos começou a sair com um cara muito rico ela conheceu o irmão dele. e agora fomos convidados para uma festa de bacana. Onde só vai ter riquinhos esbanjando dinheiro enquanto eu não tenho dinheiro nem para abastecer o carro para buscar meu pai no hospital.
Levantei do sofá cheio de buracos e fui para o banheiro, tirei a roupa analisando meu corpo de frente ao espelho, como poderia Deus ter me deixado tão gostoso daquele jeito, aquele corpo. O sorriso, os olhos, a boca, o cabelo. Tudo uma junção perfeita que as mulheres com quem eu saia adoram, elas gostam do meu pênis dentro delas, e eu gosto da sensação que elas me causam. Girei o registro da ducha e deixei que a água gelada deslizasse pelo meu corpo. Peguei o sabonete e comecei a esfregar ele pelo corpo todo. Alguns minutos depois, banho tomado. Enrolei uma toalha verde no quadril e fui para o meu quarto, onde pisava tinha roupa suja, era sempre do dia anterior.
Fui ao guarda roupa e peguei uma cueca preta e a vesti perdendo a toalha no chão, bem ali próximo aonde encontrei a cueca tinha uma camiseta regata eu a vesti, ela estava justa marcando meus músculos. Coloquei a jaqueta de couro por cima, estava frio mesmo com o céu claro. Vesti uma calça jeans escura que encontrei embaixo da toalha. Okay, encontrei a toalha novamente. No canto onde já não havia espaço para roupas encontrei os sapatos, eu os calcei.
Aquilo era o que usaria pelo resto do dia, estava ótimo, não precisava de mais nada. Tive de caminhar uns trinta minutos para chegar ao hospital, o médico que atendeu meu pai na noite anterior estava na recepção. Eu o abordei.
"Hey", disse chamando sua atenção, "preciso saber como meu pai está, os exames acabaram?".
Ele me olhou atentamente, com certeza não se recordava de quem eu era, tantos loucos que ele atendia por dia, e de repente aparece mais um.
"Ah", disse ele finalmente, " podemos conversar na minha sala".
Eu o segui pelo corredor de paredes brancas, passei por alguns bancos aonde algumas mulheres que estavam sentadas choravam enquanto outras estavam aos prantos, depois por um bebedouro até ele parar em frente a uma porta de madeira com uma pequena parte de vidro coberta por uma veneziana. Entrei na sala atrás dele fechando a porta.
O Doutor deu a volta na mesa branca e se sentou à frente de uns gráficos e banners de medicina, ele com apenas o olhar disse que me sentasse, foi o que fiz e o encarei enquanto ele buscava algo entre os papeis espalhados pela sua mesa.
Finalmente ele soltou um suspiro e abriu um envelope pardo tirando algumas folhas de dentro dele.
“Jovem Sulmen”, de repente meu coração disparou como se fosse explodir de meu peito senti uma breve falta de ar, percebi que toda sua simpatia havia sumido pelo tom de sua voz, agora se tratava de algo sério, “Sinto em informar que seu pai terá de ficar um tempo conosco, fizemos os exames no dia do incidente e até pedi para deixa-lo aqui para outros exames correto?”, assenti concordando.
“Pensei que eram exames de rotina”, acrescentei.
“Puxamos o histórico dele de outras consultas dele, e foi descoberto um tumor cerebral no cerebelo, isso já havia sido identificado em outros exames, mas creio que ele tenha pedido para nenhum médico entrar em contato com o Senhor”.
“Ele não me disse nada, faz mais de um mês que ele veio aqui, depois disso só passou a beber mais”.
“Agora como ele acabou batendo a cabeça, fizemos um exame e foi relatado um crescimento de dois milímetros, podemos optar em operar, mas ainda assim pela idade haverá riscos”.
“Preciso pensar, ele é a única pessoa que tenho, não posso deixar meu pai morrer”.
“A cirurgia necessária não entra no orçamento do plano de saúde da sua família, então teria um custo a mais para realizarmos a operação, eu sinto muito”.
Abaixei a cabeça e levei as mãos até ela, como um ato de desespero, pois era assim que me sentia. Como conseguiria a quantia para a cirurgia, não trabalhava e nem tinha de onde tirar esse dinheiro.
“Eu não faço ideia da onde conseguir esse dinheiro”, disse cabisbaixo.

Comentários