Correntes Secretas - Mascarado (Parte II)

Mascarado (Parte II)

Não havia nenhum outro empregado no cômodo, eles saíram imediatamente.
A informação ainda passava pelo meu cérebro, tentando até mesmo eu, o que tinha feito. Talvez tenha sido apenas um lapso momentâneo, mas sabia de todas as formas que o que fiz me traria consequências.
Uma outra pergunta que me fiz foi: como eles fizeram isso? Como saíram da residência? Como apagaram todas as luzes daquela forma?
Que eu me lembre o disjuntor principal fica no porão.
– Fábio – Jeferson me chamou com a voz alta - – o que você fez?
Escutei a porta da sala se abrir e bater, logo os passos apressados de Tia Ingrid se aproximando me fez olhar para trás e encarar seus olhos assustados.
– Estão todos bem? – Ela perguntou cambaleando como se acabasse de acordar de um sono profundo, embriagada da noite anterior.
– Sim... o que lhe aconteceu? – Perguntei preocupado com ela e entregando a máscara ligeiramente para Jeferson a esconder.
E antes que ela pudesse me responder caiu desmaiada no chão, rapidamente me coloquei a frente tentando acorda-la, mas nada acontecia, Jeferson foi agiu e cauteloso ao pega-la no colo.
Ele a levou diretamente no sofá e a colocou deitada, ele correu enquanto eu tentava anima-la dando leves tapinhas em seu rosto.
Jeferson voltou com um copo d’agua quase derramando, ele mergulhou a ponta de um lenço branco dentro do copo e respingou a água no rosto de Tia Ingrid.
Foram poucos segundos fazendo isso e ela acordou assustada olhando para os lados, em pânico.
Ela tomou o copo da mão de Jeferson e bebeu toda a água, como se tivesse ficado dias sem se hidratar.
– O que foi isso, Tia? – Perguntei quando ela fixou seus olhos nos meus.
Jeferson a ajudou se sentar no sofá, ela não falava nada, apenas me encarava com pavor.
– Você está bem, Sra. Laguna?
– Sim... – ela se levantou me empurrando para o lado - ... eu... estou bem – ela olhou novamente para os lados enquanto titubeava a ponta dos dedos uma na outra – Vou para o meu quarto, Jeferson você pode me levar um chá de ervas, por favor?
– Sim, claro, Sra. Laguna.
Me levantei ainda encarando ela, Tia Ingrid estava estranha, e eu preocupado ao ponto de chamar o médico da família para examina-la, isso por que não gosto do Doutor Kafeus.
Tia Ingrid caminhou até a escada e virou-se novamente para me encarar.
– Venha até o meu quarto, precisamos conversar.
Caminhei seguindo-a até seu quarto que ficava no corredor oposto ao meu, entramos e ela trancou a porta assim que passei por ela.
– O que foi, Tia? O que aconteceu, por que está tão apavorada?
Ela se aproximou se inclinando para frente e sussurrou baixo para que somente eu a ouvisse
– Eles me pegaram... – fiquei de boca aberta tentando entender sobre o que ela estava falando, mas juntando os pontos não foi tão difícil - ... disse que ia fazer uma viagem, certo? Bom eu tentei ir, mas fui sequestrada antes de sair no portão da mansão.
– Meu Deus, Tia Ingrid, como assim? – Não sabia como reagir, estava tão surpreso e preocupado.
Eram tantas informações passando na minha cabeça naquele momento, que minha mente estava trabalhando em seu melhor potencial, estava eufórico e com medo ao mesmo tempo.
– Eles não fizeram nada, mas disseram que você iria fazer um jantar aqui e que eu seria uma garantia – ele fez uma pausa respirando fundo como se ainda lhe faltasse ar – isso é verdade, Fábio?
Fechei os olhos, não podia mentir para ela, mas também não poderia dizer a verdade olhando em seus olhos, apenas assenti com a cabeça concordando.
Ela me bateu no ombro com uma de suas mãos.
– Não aconteceu nada demais, ele queria me conhecer e falar sobre o Lúcio...
– Isso não é importante, Fábio – disse ela autoritária me interrompendo – você tem noção do que fez? Você colocou a todos nesta casa em perigo, eles foram capazes de desaparecer comigo, e vocês nem se deram conta. Eles podem explodir essa merda toda e vocês nem perceberiam.
– Vou chamar o Doutor Kafeus para te examinar – disse caminhando em direção a porta.
– Não – ela me parou puxando-me pelo braço – você não pode se expor a esses riscos, Fabio... fiz uma promessa de te manter seguro, mas é você mesmo quem se coloca nessas situações.
– Tia, pelo o que você disse, você foi apanhada antes de eu ter aceitado este jantar, não faz sentido.
– A Seita está sempre um passo à frente – ela era incisiva, já não estava apavorada, estava furiosa – quando você menos espera eles atacam, e essa visita nesta casa só prova que eles têm o maior interesse neste Lúcio, você precisa entregar ele.
– Não - Girei a chave na fechadura da porta e a abri – não posso fazer isso.
Passei a noite em claro, deitado na cama, olhando para o relógio de ponteiros em cima do criado-mudo. A hora parecia não passar, não conseguia parar de pensar, Tia Ingrid sequestrada, o apagão, a máscara e o maldito convite para ir a Seita. Não sabia se isso iria realmente acontecer.
Duas batidas na porta e ela se abriu iluminando o quarto com a luz do corredor e a silhueta de Lúcio parado nela.
Sentei na cama e acendi a arandela em cima do relógio de ponteiros.
Lúcio entrou e fechou a porta atrás de si, ele se aproximou e tirou de suas costas a máscara prateada me entregando-a.
– Jeferson foi me buscar no esconderijo e me entregou isso, o que você fez?
Eu o encarei naquela meia luz.
O cabelo dele estava bagunçado e os olhos cansados, ele certamente estava cansado e eu não estava pronto para falar sobre nada naquele momento.
– Me perdoe – comecei a chorar.
Tentei segurar, mas foi mais forte que eu, tantas coisas para assimilar e acreditar, precisava desabar. Pelo menos uma vez.
Lúcio soltou a máscara no chão e se aproximou me abraçando, estava em seus braços e foi como eu sempre imaginei. Ele me aquecia, ele estava lá, por mais que eu tentasse achar mil e um motivos para entrega-lo, não conseguia achar um.
Eu o afastei e olhei em seus olhos.
– Você pode passar a noite aqui comigo?
Ele mordeu o lábio inferior e deu um sorriso bobo de canto concordando com a cabeça. Me afastei para o lado dando espaço para que ele se deitasse.
Ele o fez e eu deitei olhando nos olhos dele, com minha cabeça no travesseiro e minha mão segurando a dele.
Podia me sentir seguro, pelo menos uma fez.

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