TodoEu - Ocasiões


ocasiões

lembranças, nada como as lembranças que ficam na sua cabeça fazendo você se recordar de cada momento ao lado de certa pessoa.

Percebi que encontrei o meu verdadeiro amor, era ele. E tinha plena convicção disso. Saiba que quando você encontra seu amor sua alma sente, não existe essa de amor à primeira vista, se sim, não acredito em completa besteira. O amei depois de vê-lo pela segunda vez, seu estilo diferente me encanta.
A forma como ele fala e sorri. Do jeito que me encara, tão nada, quero dizer, tudo começou do nada e de repente ele virou o meu tudo.
Os dias foram passando e pude perceber que ele nunca voltaria, nos eventos dos irmãos Oclen eu nunca mais o vi. Uma solidão tomou conta de meu peito, ele foi o meu primeiro amor como nenhuma garota havia sido antes, eu o amei e depois de um mês ainda o amava.

Levantei da cama como sempre cansado de uma balada anterior, já havia terminado os estudos então nunca me preocupei em fazer outra coisa a não ser respirar. Mas nos últimos dias minha única coisa a fazer era ir visitar meu pai no hospital. Então fiquei sentado na cama por alguns minutos pensando em tudo o que aconteceu, em como conheci Talita, em como ela estava feliz namorando Ygor Oclen. Ficava feliz por tudo o que estava acontecendo na vida dela, mas ainda sim me sentia afastado o suficiente para ser esquecido. Depois veio a imagem de Samuel na minha cabeça, minha mente o projetou bem ali parado na minha frente sorrindo com sua máquina fotográfica disparando fleches sobre mim.
Fechei os olhos e quando os abri ele não estava mais ali.
Levantei e caminhei até o banheiro, tinha dormido pelado então só abri a ducha e deixei que a água fria escorresse pele meu corpo. Sai pingando agua por todo o quarto. Por fim me sequei na toalha que estava em cima da poltrona de couro todo rasgado preto no canto do quarto.
O telefone tocou, deixei que tocasse não queria atender ninguém. Me enrolei na toalha e fiquei olhando a tela do smartphone em cima da cama, nenhuma mensagem ou ligação perdida de Talita, naquela hora do dia – em dias comuns é claro – Talita já teria me ligado umas trinta vezes.
O telefone começou a tocar novamente, andei até ele na sala e o levantei do gancho.
“Alo”, disse ao telefone.
“Bom dia, gostaria de falar com Leonardo Sulmen”.
“É ele mesmo, como posso ajuda-la?”.
“Teria como você vir ao hospital, gostaria de falar a respeito de seu pai” ...
Rapidamente coloquei o telefone no gancho desligando-o antes da mulher do outro lado da linha terminar a frase. Corri para o quarto e me vesti da forma mais rápida possível depois de jogar a toalha branca encardida sobre a cama. Vesti uma calça jeans escura e uma camiseta branca. Sai correndo para procurar a chave do carro. A achei em dos cantos do sofá velho, sai para fora e abri a porta do carro ligando ele em seguida.
O acelerei saindo como um louco cantando pneu.
Estacionei uma quadra antes do hospital, fechei o carro e corri até que entrei na recepção.
“Oi, me ligaram para falar do meu pai”, disse rapidamente sem pausar as palavras, “meu nome é Leonardo”.
Ela nem me escutou e já pegou o telefone e discou um número, lhe dei as costas enquanto ela sussurrava algo ao telefone, meu coração estava acelerado pois tudo o que tinha estava em jogo. Meu pai.
Mesmo ele sendo um alcoólatra miserável que me bateu minha infância inteira, nunca acompanhou meus estudos nem mesmo nos dias dos pais onde fazia apresentações na escola, mesmo assim, eu o amava e ele era tudo para mim. Um tipo de herói-vilão.
Ele era a única família que eu tinha.
Olhei para o lado e o Doutor estava se aproximando.
“Leonardo”, ele me olhou e eu assenti, “me acompanhe por favor”.
Eu o segui entre os corredores de paredes brancas até uma sala, já estive ali uma outra vez. O Doutor se sentou do outro lado da mesa e acenou para que eu sentasse na cadeira a frente. O fiz.
“Bom, pedi para que te ligassem, pois, a situação do seu pai não é boa”, assenti como se estivesse entendo, “ele está com um tumor que está se espalhando para o pulmão e rim, a bebida foi a causadora, mas não só a bebida alcoólica e sim a quantidade que ele digeria por dia, receio que ele não tenha muito tempo de vida”.
“Quanto tempo?”. Consegui dizer.
“Devido as condições em que o tumor se espalhou chegando perto do pulmão ele tem em torno de três semanas”.
“Preciso vê-lo”.
“Tem uma outra coisa que gostaria de discutir com você, o hospital não pode mais acomodar seu pais nas instalações a não ser que você pague por isso”.
“Quero leva-lo para casa”
“Mesmo assim você estará em debito com o hospital, posso dar alta para ele amanhã pela manhã”.
Assenti e me levantei, sem dizer nada sai da sala, eu sabia qual era o quarto dele então peguei o elevador e desci no terceiro andar, caminhei um pouco e o observei pelo vidro.
A verdadeira realidade da minha vida, é que eu amo um garoto que não está por perto pois não sei nada sobre ele, segundo, meu pai está com um tumor e tem pouco tempo de vida e terceiro eu nem sei o que fazer quanto a tudo isso.

Sentei no banco do motorista e bati a cabeça no volante, precisava disso, um choque. Algo que me fizesse seguir em frente. Segurei meu smartphone e fui na agenda, lá estava seu nome SAMUEL TONDICK. Movi o dedo para o lado e a tela mudou para o modo ligação.
Depois de um tempo disse a mim mesmo que não ligaria para ele, disse que ele poderia voltar, mas nunca voltou. Ele não havia gostado o suficiente de mim?
“Alo, desculpe não poder atender sua ligação, retorno quando puder”, disse a mensagem gravada na caixa postal.
Olhei para a avenida movimentada, era como se pudesse vê-lo atravessando a rua e caminhando em direção ao meu carro. Minha mente criava imagens dele o tempo todo como um teste de superação. Vi sua mão batendo no vidro da janela do carro.
Abaixei o vidro.
“O que faz aqui, Leonardo”, disse Talita.
Desci do carro rapidamente e a abracei chorando nos teus braços como uma criança birrenta.

Estávamos sentados na sala da casa dos Oclen, Ygor estava na cozinha enquanto contava para Talita o que havia me acontecido nos últimos dias. Contei tudo, menos a parte do Samuel Tondick.
“Sinto muito pelo seu pai”, disse Ygor Oclen voltando para a sala da sua mansão, ele carregava uma bandeja com copos cheios de suco de laranja. Ele me entregou um copo, “eu posso te ajudar pagando o hospital”.
“Não quero que paguem para mim, você nem me conhece, eu sou só o amigo da sua namorada”.
“Também não me sentiria bem se você fizesse isso, Ygor”, Talita olhou para mim, “você precisa arranjar um emprego, precisa trabalhar para cuidar do seu pai, Leonardo, é a sua vez de se virar com os teus problemas e resolve-los, ninguém mais pode fazer isso por você”.
Talita tinha razão, era o momento certo de crescer na minha maturidade e me transformar em homem e deixar aquele garoto para trás.
“Posso ajudá-lo com o emprego, se você quiser”, Ygor Oclen estava realmente disposta a me ajudar.
“Tenho que fazer isso sozinho, obrigado”.

Estava dirigindo o carro a caminho de casa, parei no semáforo o meu smartphone tocou. Rapidamente atendi pensando que era do hospital.
“Oi, você queria falar comigo, sou eu, Samuel Tondick”.

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