Correntes Secretas - Beijado


Beijado

– JEAN – eu gritei recolhendo a toalha branca e amarrando-a na cintura o mais rápido possível enquanto corria atrás do rapaz que saiu da área da piscina batendo os pés como se fosse o maquinário de uma locomotiva pelos trilhos.
Ele parou e me olhou furioso nos olhos como se fosse jorrar chamas por ali mesmo.
– Você sabe o que eu penso sobre isso – parei imediatamente fitando-o.
Não posso dizer que eu não havia gostado, foi bom, e eu gostei, mas eu tinha que me punir por aquilo, não era um sentimento bem, não era o melhor a se fazer, não em relação a Lúcio que mais se parecia com um psicopata que reaparece do nada para infernizar a vida do outro.
– Por favor, não – sussurrei, ele fechou os olhos e abaixou a cabeça balançando-a em negação.
– Você escolheu isso – ele começou – eu não posso ficar no meio disso.
– Ele é apenas um hospede...
– Que te beijou na piscina – ele me interrompeu com um tom de voz elevado.
Jean estava furioso, seu rosto estava vermelho, não tinha desculpas o suficiente para dar, eu não sabia o que falar.
Eu nem me arrependia de imediato.
– Ele vai embora – disse sem pensar e no exato momento Jean voltou a me encarar nos olhos como se uma luz de esperança plainasse em seu sentimento de fúria.
– Quando? – Ele perguntou dando um passo à frente chegando perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração desesperada.
  Depois do meu aniversário, vou pedir para que ele arrume um outro lugar para ficar neste curto prazo, mas ele irá deixar a casa.
– Nada de deixa-lo na casa de hospedes – disse Jean com um sorriso nos lábios – ele se aproximou um pouco mais e me beijo de forma fervorosa.
Com um grunhido Lúcio chamou a nossa atenção arranhando a garganta.
Ele estava todo molhado, e o caminho atrás dele também, qualquer um que pisasse por ali escorregaria, ele sorriu para Jean que assentiu com a cabeça.
– Perdoe-me pelo mal-entendido, foi um beijo no rosto, acho que acabei ultrapassando os limites.
Jean arqueou as sobrancelhas entendendo o deboche estampado no rosto de Lúcio.
– Sim, espero que não se repita.
– E não acontecerá – Lúcio me olhou – você não vai acreditar no que aconteceu – ele disse esperando que eu ficasse surpreso – minha toalha caiu na água.
Olhei para baixo e vi que ele segurava a toalha toda molhada enrolada na cintura com a mão direita.
– Tem um armário no banheiro, pegue outra lá – disse ainda olhando para a toalha e poça que se formava em seus pés descalços.
– Perdoe-me pela grosseria – Lúcio estendeu a mão direita para Jean – meu nome é Lúcio Marcchior – Jean com sua educação de um nobre apertou sua mão.
  Jean Carlos – ele disse – namorado do Fábio.
Foi como se algo tivesse puxado, mas a toalha mergulhou no chão exibindo a nudez de Lúcio que não usava sunga.
No mesmo segundo que pareceu duas horas virei o rosto, Jean olhou e logo ficou envergonhado pelo o que viu.
– Perdoe-me – ele disse novamente – toalha pesada, deveria ter previsto isto.
Devo confessar que antes de subir a tolha para a cintura novamente, eu olhei. Olhei só para ter certeza do que havia visto, uma tatuagem em sua virilha. Riscos em tom de azul claro que formavam a letra T maiúscula e vários outros riscos formando rosas no mesmo tom. Era diferente. Aquilo não estava nas minhas lembranças, nem mesmo o novo tamanho do membro.
– Hoje deve ser o dia do Perdão – disse Jean me puxando para perto com seu braço – não é mesmo.
Eu ainda estava desconfortável em fazer qualquer um que fosse o comentário, então sorri enquanto Lúcio que com um sorriso no rosto de afastou voltando para o banheiro.
Jean caminhou até o sofá de estofado azul e armação dourada e sentou-se, com as mãos na cabeça ele disse:
– E você ainda quer que eu confie nele, a qualquer momento ele aparece nu...
– Foi apenas um acidente, meu amor – disse sentando ao seu lado, Jean colocou uma de suas mãos na minha perna – ele vai embora, lembre-se disso.
– Eu acredito em você, só não confio nele e todo esse jeito pretencioso.
Me a aproximei dele e o beijei, ele retribuiu com um beijo ainda mais quente, Jean beijava meus lábios de forma excitada, ele começou a descer sua boca até meu pescoço enquanto eu passava minha mão por suas costas, então ele avançou para os meus mamilos mordiscando-os levemente.
Ele parou e me olhou, eu assenti como se lhe desse consentimento para que continuasse de forma involuntária.
Ele pegou a minha mão esquerda e a colocou em sua ereção na calça jeans, ele estava duro como uma pedra, então eu coloquei minha mão por dentro da calça e ele gemeu baixo quase que em um sussurro.
Jean voltou a me beijar se colocando por cima do meu corpo, mas eu avancei sentando eu seu colo minha toalha se desembaraçou da minha cintura e ele me segurou em meu membro com um sorriso no rosto.
Eu queria aquilo.
Ele me levantou e com a ponta dos dedos colocou meu pênis para fora, ele ficou olhando por alguns segundos e então segurando com uma das mãos ele abocanhou chupando-me com seus lábios rosados, a sensação era boa, era ardente e ao mesmo tempo frenética.
Eu o direi de meu corpo voltando a beija-lo, então ele se levantou e me deitou no sofá subindo em cima do meu corpo, com uma das mãos ele começou a abrir os botões de sua camisa branca revelando sua pele branca por baixo do tecido, seu peito era liso, um homem que se cuidava, essa era a melhor definição para Jean, em seu corpo não havia pelos. Ele então removeu seu cinto e logo abriu o zíper do jeans. Jean se colocou no meio das minhas pernas e foi neste momento que eu olhei para cima e vi Lúcio sorrindo enquanto passava pela passarela sobre as nossas cabeças.
– Pare – eu disse quase implorando – pare – eu empurrei Jean de leve com as mãos e ele parou de beijar o meu corpo, seu rosto estava avermelhado assim como o meu, mas por motivos diferentes.
– Por que?
– Alguém pode aparecer a qualquer momento, e eu não quero que me vejam assim.
Jean se levantou e olhou para os lados se recompondo. Ele levantou o jeans que já estavam em seus pés e abotoou a camisa aberta, eu recolhi a toalha no chão e a enrolei na cintura.
Jean ainda respirava de forma afobada, como se a euforia ainda corresse pelo seu corpo e que corpo.
– Jantar?
– Me espere na biblioteca, vou apenas me vestir adequadamente – disse.
Caminhei subindo a escada enquanto Jean entrava na biblioteca pela porta dupla.

Encarei meu reflexo na frente do espelho, o meu reflexo mostrava um jovem de cabelo penteado e bem vestido com a camisa azul claro e uma calça preta, os sapatos de bico quadrado erma de couro preto, caminhei até o closet integrado com o banheiro e peguei o terno preto do cabide, eu o vesti e caminhei para fora do quarto, no corredor escutei uma música tocando entre as paredes, era o piano da biblioteca, virei no corredor largo e caminhei até a porta de carvalho abrindo-a.
Lúcio estava tocando o piano, sentado com sua delicadeza nas pontas dos dedos enquanto suavemente apertava as notas encenando uma linda melodia, ele parou de tocar abruptamente e me encarou tirando a mecha de cabelo de seus olhos.
– Você sabe tocar? – Ele perguntou com um sorriso de canto de boca no rosto.
– Não, minha Tia comprou o piano há dois anos para tentar me ensinar, mas eu não consegui aprender – olhei a minha volta e depois foi até o pare peito procurando no andar de baixo – Você para aonde foi o Jean?
Lúcio bufou e revirou os olhos com desdém.
– O seu namorado com quem iria transar na sala de estar? – Eu sorri educadamente evitando responde-lo – Ele disse que o barulho estava insuportável, disse que te esperaria no carro.
Com as mãos sobre o corrimão eu comecei a descer a escada da biblioteca observando o lustre que pendia iluminado o andar abaixo.
– Sério? – Disse Lúcio parado na porta da escada me olhando atentamente, eu parei e olhei para ele antes de girar a maçaneta da porta – o que você viu nele?
– Como assim?
Lúcio desceu os degraus em uma corrida rápida e se aproximou ficando a dez centímetros de mim.
– Ele tem um pênis grande? Tem Pegada? Você realmente ama ele?
– Sim. Sim e sim – Respondi com um sorriso no rosto.
– Você merece mais do que cara de vinte e oito anos que se faz de jovem nobre, que fala certinho, que tem ciúmes por qualquer coisa.
Me endireitei para ficar a sua altura, ou quase isso.
– Jean é um ótimo namorado, uma ótima pessoa, o que mais eu preciso além disso?
Lúcio estampou o seu sorriso sarcástico no rosto novamente e se aproximou ainda mais.
– Eu sei do que você gosta, Fábio Laguna, você gosta de aventura, do medo, você gosta de se sentir protegido e não de rotinas, nobreza.
Eu sentia seu hálito fresco, sentia o calor do seu corpo no meu, então eu senti o seu toque, a ponta de seu dedo indicador tocando a minha mão.
– Eu o amo – disse dando um passo para trás – depois do meu aniversário quero que você vá embora, você tem um dia para encontrar algum lugar, se não encontrar se hospede em um hotel que eu cobrirei as despesas.
Dei-lhe as costas, abri a porta e sai deixando-o com seu afronto enquanto ele desmanchava o sorriso pretencioso do rosto.

Desci do carro assim que Jean terminou de estacionar o carro no pátio do restaurante, bati a porta e ele sorriu caminhando em minha direção vestindo o terno que havia deixado preparado no banco de trás.
O jantar em seguido foi maravilhoso, o restaurante de cardápio italiano era famoso por seus pratos com queijo e massas e essas eram as minhas comidas favoritas. Não me senti estranho, e sim muito vivo de estar ali na frente de todos, sem medo algum com o meu namorado.
– Por favor – disse Jean chamando a atenção do garçom que rapidamente se aproximou desviando-se das mesas – vamos querer a sobremesa agora, você pode traze-las, Cannoli Siciliano Tradicional, dois – o rapaz bem vestido acenou com a cabeça – obrigado.
Jean se levantou e eu o encarei.
– Eu queria adiar para amanhã, mas já teremos muitas emoções conhecendo um a família do outro, então – Jean se aproximou e ajoelhou-se diante de mim. Ele colocou a mão no terno no mesmo momento em que todos os clientes e funcionários do restaurante param o que estavam fazendo para nos olhar, de dentro do terno ele tirou uma caixinha de veludo preto e a abriu mostrando a aliança dourada que cintilava com seu brilho.
– Fábio Laguna, você aceita se casar comigo?
Eu estava tão em choque quanto surpresa, minhas mãos e pernas tremiam, meu corpo estava gelado, eu realmente não esperava nada daquilo, os sinais poderiam estar estampados na capa de uma revista com a escrita em amarela e em negrito que eu provavelmente não perceberia.
O restaurante estava em um silencio absoluto esperando que eu dissesse algo, mas os meus lábios não me obedeciam.
E com os olhos cheios de lagrimas eu assenti com a cabeça dizendo que sim.
Um flash iluminou o salão todo no segundo em que Jean colocou com toda a sua delicadeza a aliança em meu dedo anelar.
Os aplausos e assobios se iniciaram e então nós nos beijamos encerrando a noite e mais um capítulo da minha vida.

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