Now Or Never - Código 1304

Código 1304

Às vezes, mas somente algumas vezes não sabemos para onde ir. Não temos ideia de qual será o próximo passo ou se teremos uma última chance de ver quem amamos. Quando se está no mesmo lugar que eu você se pega pensando na morte, se pega imaginando um milhão de formas que você pode morrer, seja uma infecção em certa ferida causada em batalha ou apenas uma morte precoce. Não sabemos exatamente até que ponto podemos chegar na vida e não sabemos exatamente quanto tempo temos para nos despedir das pessoas, dos nossos filhos e esposas. Se despedir de tudo e entrar em um avião aonde você sabe que só não volta para casa se estiver morto.
Quando beijei minha esposa, Selena, ouvi o anuncio da última chamada de embarque, olhei nos olhos do meu filho de apenas algumas semanas e sorri porque queria que última coisa que queria que ele se lembrasse de seu pai, era o meu dele. Quando fui convocado para servir meu país na guerra eles prometeram proteção para a minha família. E sabendo que quem amo estaria seguro, segui com toda cautela as diretrizes para o treinamento do exército.
Estava a caminho de uma guerra talvez sem fim, pois não temos uma data para erguer uma bandeira branca e acabar com tudo. Os melhores soldados foram convocados, os até mesmo quem nunca imaginou servir o exército, fomos obrigados a deixar nossas famílias para servir um governo hostil que acabara de entrar em uma terceira guerra mundial, fomos obrigados a deixar tudo para trás.
Selena me abraçou mais forte, sentia o medo dela em seu abraço, era o mesmo sentimento que o meu, ela beijou meu rosto e sussurrou no meu ouvido.
“Eu te amo”.
Então senti uma vontade de correr, fugir sem olhar para trás, salvar a ela e ao meu filho, desaparecer de tudo e todos. Mas com toda a tecnologia que nos cercava não estaria vivo após o terceiro passo.
Selena se afastou e olhou nos meus olhos como se quisesse se desmanchar em lagrimas. Vi o Comandante de área caminhando na minha direção, então eu sorri para ela com o mesmo sentimento de saudades. Me posicionei na fila de embarque, em alguns segundos estava mostrando meus documentos para os funcionários da expedição, passei por um corredor estreito de paredes brancas e em minutos estava tão perto e tão distante ao mesmo tempo. Me sentei no local destinado e olhei pela janela sabendo que agora não tinha volta, sabendo que não podia mais chorar e implorar, nunca pude, agora estava em uma situação pior ainda. Exatamente aquela em que você tem que dizer adeus sem dizer nada.
O avião decolou e meu corpo gelou. Minha vida mudaria a partir daquele momento. E sim ela mudou.
O Comandante a bordo passou algumas estratégias de pouso forçado, queda e ou ataque aéreo. Ele enviou imagens para nossos smarts – aparelho usados para comunicação entre os soldados – o mapa marcava pontos estratégicos aonde conseguiríamos abrigo, cuidados médicos. Então ele nomeou os líderes de cada grupo.
Meu líder era conhecido como “O Fuzileiro”, ele era o melhor atirador, já havia trabalhado até mesmo para o serviço secreto da Antiga Casa Branca, mesmo que agora estávamos lutando contra eles. Olhei cuidadosamente para o mapa enquanto ele explicava as legendas, pois os pontos eram marcados mas tínhamos que lembrar o que cada cor significava.
O ponto Branco era enfermagem ou Hospital, o Azul era abrigo e o Amarelo apontava casa de famílias aliadas com a causa. Ele também disse que os smarts só poderiam ser usados com o indicador direito e desbloqueados com o polegar esquerdo, por questão de segurança.
Depois de ter passado todas as regras de guerra, ele disse que cada chefe de família que havia ficado em terra receberia um smart para se comunicar com os que estavam em guerra.
Não foi só o meu suspiro de alivio que escutei, foi o de todos os outros pais e filhos homens que estavam abordo do avião.
Esse foi o início do meu dia 1.
Duas horas depois aterrissamos em um pais que não era considerado habitável devido a cruel devastação. O Líder do grupo Foi na frente e sua primeira regra ditada foi:
“Fiquem todos juntos, aconteça o que acontecer”.
Andamos um pouco e estávamos a duas quadras do avião olhando para o acampamento a céu aberto próximo a praia. De longe observei que havia muitos homens feridos, o ataque foi cruel e muitos homens morreram. Por isso fomos mandados para lá. No aproximamos do grupo e aos poucos fomos recebidos pelo quartel, nossa missão em terra seria a mesma que a deles, se certificar que não havia mais civis em terra.
A guerra foi iniciada depois que o Reino Unido enviou misseis a Rússia e isso fez com que mais de três mil civis morressem. A Rússia por sua vez revidou e assim começou a guerra. O mundo fui dividido em Três partes, Os Aliados, Opositores e os Territoriais. A Alemanha tomou a dor da Rússia e foi exatamente por isso que me convocaram para essa terceira guerra mundial.
O Reino Unido perdeu muito do seu poder quando a Alemanha tomou a Antiga Casa Branca e matou o Presidente. Agora os ataques se tornaram mais frequentes nos Estados Unidos.
O país que mais sofreu com a guerra até o momento foi o Brasil, que é pobre em armas e munições. Acabou sendo devastado rapidamente pelos Opositores, pois com cada ataque que acontecia, o próprio povo foi se auto destruindo e tormando uma guerra ainda pior entre si. A população iniciou sua própria guerra devastando o país com violência e mortes. Muitas crianças morreram e tudo o que via era fogo ao invés do tão famoso Pão de Açúcar que me maravilhava nos cartões postais de amigos que visitaram o pais antes de tudo.
A fumaça ofuscava o sol que nascia atrás das regiões montanhosas, os homens do acampamento tossiam e isso fazia com que seus ferimentos doessem mais.
“Eu vim aqui antes de estar assim”, disse um dos homens que era do meu grupo, eu o encarei e ele sorriu, “Este lugar era lindo, as pessoas lotavam a areia da praia”.
“Eu imagino”, disse sentindo um arranhado na garganta. O reconheci do avião pois estava sentando na minha frente e não parava de tagarelar sobre seu medo de altura.
Meu smart vibrou e brilhou o visor com uma mensagem na tela. PRIMEIRA MISSÃO, EXAMINAR TERRITORIO.
O Fuzileiro olhou para todos do seu grupo e apunhou sua arma laser. Ele apontou com a mão em direção à rua e começou a caminhar saindo da praia. Ele nos fez segui-lo em meio aos prédios que estavam se deteriorando aos poucos.
Ele seguiu na frente, vou logo dizendo que tudo foi culpa dele.
Nós seguimos o completo idiota, pelas ruas cheia de carros completamente destruídos, corpos estendidos no asfalto e prédios aos destroçados.
Acredito que aquilo tudo era para ser um dos pontos mais lindos da cidade, mas estava tudo tomado pela destruição.
“Oi, meu nome é Manuel”, disse um dos soldados”, ele me olhou e sorriu, “Eu não sei porque me mandaram para cá, não sei mesmo, eu trabalhava como geólogo não faço ideia de como se usa uma arma dessas”.
Ele balançou a arma de laser na frente do próprio o rosto enquanto caminhava ao meu lado.
Ele falava e eu observava cada detalhe, aprendi isso aonde trabalhava, era inspetor de Obras, já avaliei obras de artes, das mais belas as mais caras do mundo. Meu trabalho era autenticar cada uma delas. Já estive com a Moraliza na ponta dos dedos, mas agora estava apunhando uma arma com as mãos tremulas com medo do pior.
“Eu não me casei, não disse que a amava, nem mesmo entreguei a aliança que comprei a três semanas atrás, não consegui. Não fui capaz”, dizia ele e mesmo que eu não desse nenhuma atenção para as palavras que saiam da sua boca ele continuava a falar, “Eu a deixei na casa mãe, eu odeio a mãe dela, mas mesmo assim aquela megera me abraçou e me desejou boa sorte...”.
Vi um feixe de luz vermelha passar bem na minha frente e depois vi Manuel cair no chão. Olhei para ele caído com um buraco no lugar do olho esquerdo. Paralisei. Meu corpo entrou em um transe total e mesmo que quisesse correr meu corpo não me obedecia. Fui puxado pelo braço por um dos soldados que me levou para atrás de um prédio em ruinas.
Ele estava ofegante, segurava a arma como um profissional, enquanto eu nem sentia a ponta dos dedos. Ainda via Manuel caído no asfalto escuro, estava apavorado ouvindo na coxia os barulhos de tiros trocados entre o meu grupo e outros que nem fazia questão de saber quem era. O soldado se virou para trás e me encarou com seus olhos castanhos, ele mirou e atirou. Olhei para trás e ele havia acertado um homem vestido como um mendigo. Ele correu até o homem e pegou sua arma.
Ele pegou do meu bolso da calça de estampa camuflada o meu smart.
“Coloque o dedo”, eu o fiz, ele me entregou o smart, “digite o código 1304 e de Entrar”, obedeci sem questionar, “Pronto agora eles sabem que estamos sob ataque”.
No mesmo instante o prédio do outro lado da sua ruiu caindo em pedaços, uma fumaça cinzenta subiu imediatamente tomando qualquer forma de visibilidade.
Saltei para trás caindo aos pés do mendigo morto, O bravo soltado me ajudou a se levantar e fuçou novamente no meu bolso me entregando um óculo.
Era de visão noturna. Eu não fazia ideia de como ele estava ali e eu não sabia.
“Você prestou atenção no que o Comandante disse no avião?”. Perguntou ele usando o óculo dele.
Ele perguntou e concordei com a cabeça. Não escutava nenhum barulho, nada. Apenas o silencio junto aos últimos destroços do prédio que se acumulavam do outro lado da rua.
“Meu nome é, Theo. Fique comigo”.
Assenti com a cabeça novamente, ele caminhou na frente indo por trás do prédio que estávamos à espreita. Ele disse para sempre olhar para trás e ao mesmo tempo aonde estava pisando. Confesso que não foi fácil fazer isso.
Então estávamos subindo ruas aleatórias, ruas estreitas que nos levava para o alto de um bairro completamente destruído.
Ele começou a olhar na tela do smart sem parar, como se estivesse buscando algum ponto, rapidamente peguei o meu, queria saber para aonde estávamos indo. Ele estava seguindo até um ponto Azul, que era o ponto mais próximo que não parava de piscar. Ele se abaixou entre os escombros de uma casa que ainda exibia a estrutura de madeira e puxou uma porta para cima.
Theo me olhou com um sorriso de alivio no rosto, acho que ele não se sentia assim desde que saiu do avião. Eu mesmo não me sentia.
“Vamos”, disse ele pulando para dentro do buraco no chão.
Me aproximei e encarei a luz da lanterna que ele usava para iluminar o caminho para eu descer. Segurei nas bordas da porta e desci alguns degraus da escada de ferro na lateral antes de fechar a porta sob a minha cabeça.
Estava escuro de um lado do corredor estreito e do outro estava iluminado pela lanterna do smart de Theo.
Ele segurou a arma novamente, pronto para qualquer ataque surpresa que viesse a acontecer. Ele empurrou uma porta de madeira que rangeu e me fez sentir o mesmo sentimento de alivio ao reconhecer um rosto entre todos os homens que estava ali embaixo.

O Fuzileiro.

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