Now Or Never - O Fuzileiro
Ele sorriu para Theo
ao vê-lo então se aproximou, ele não disse nada apenas assentiu como se aquilo
fosse um pedido de desculpas por nos deixar para trás, já que os outros homens
do grupo estavam ali.
O lugar aonde estava
era um abrigo subterrâneo, haviam pelo menos uns quatro grupos de quinze
pessoas. Homens de dezoito á quarenta anos de idade.
Os mais jovens
estavam teclando no Smart e acabaram por descobrir que as mensagens para os
familiares não estavam sendo respondidas.
Todos pararam de
falar quando escutamos um som alto vindo de cima, um pequeno tremor nos deixou
apreensivos.
Todos ficaram em
silencio, olhei para os lados procurando por Theo, mas ele não estava mais ali.
Me aproximei de um grupo de saldados que estavam em silencio, assim que que o
barulho estranho cessou um deles se virou em minha direção e disse:
“Isso não é coisa de
civil”.
“Envie essa
informação para a sede assim eles explodem esse lugar antes de evacuarmos”,
disse outro soldado.
“Você é do nosso
grupo?”. Perguntou o que parecia ser o mais jovem dali.
“Não”, respondi,
“Pelo menos não reconheço nenhum de vocês”.
“Ele é do grupo que
começou tudo”, disse o mesmo.
Fiz uma cara de quem
não havia entendido nada então todos me encararam como se...
“O líder do seu
grupo atirou em uma civil que estava armada, ela pedia por ajuda”, começou um
deles.
“Ele mirou a arma e
atirou nela, outros civis com medo começaram a atirar contra nós todos, e de
repente tudo começou a ruir”, disse outro com olhar de raiva.
“Perdemos dois do
nosso grupo por conta do erro do seu líder, ele podia ter apenas ouvido a
garota, ela era tão indefesa quanto você com esses seus olhinhos de gato
manhoso”.
Comecei a me afastar
aos poucos, eles não paravam de falar, não paravam de falar que O Fuzileiro era
o verdadeiro culpado pela morte de vários soldados em campo.
A tela dos smarts de
todos iluminou. Era a mensagem de que o nosso avião havia sido tomado pelos
territoriais.
Não demorou muito e
começaram murmúrios do acontecimento. Me aproximei do meu grupo que estavam
próximos a um pilar de granito preso ao teto encardido do abrigo. Eles me
olhavam como se tivessem visto um fantasma, como se estivessem assustados e com
medo ao mesmo tempo.
“Precisamos sair
daqui”, disse Theo se aproximando junto ao Fuzileiro, “Eles estão preparando um
ataque para sair daqui”.
“Eles quem?”.
Perguntou outro do grupo.
“Os soldados que –
começou O Fuzileiro, mas se interrompeu quando todos os olhares se voltaram
para ele, “eu sei, eu sei o que muitos de vocês pensam, mas estamos aqui para
verificar o perímetro, apenas. Tenho um mapa antigo que encontrei enquanto
vinha para cá”.
Ele mostrou um mapa
impresso em um papel pardo meio amassado. Ele colocou o mapa no meio do círculo
que o grupo havia formado e apontou três pontos:
“O comandante disse
no avião para os líderes que haviam mais aeroportos em terra, precisamos chegar
em algum aqui no Brasil para sairmos daqui. Eu sei que tem outras saídas deste
abrigo, uma delas dá no mar, mas precisamos ser cautelosos porque escutei isso
de um outro grupo eles estão aqui a mais tempo que nós”.
“Eu acredito nele,
pessoal”, disse Theo interrompendo o Fuzileiro, “eu também acredito no grupo,
precisamos sair daqui antes que os territoriais lá fora acabem descobrindo o
abrigo”.
Todos começaram a se
entre olhar, eles estavam pensativos e ao mesmo tempo apreensíveis com o que
fazer, não era uma decisão fácil que deveríamos tomar. Mas tínhamos apenas duas
escolhas: continuar a seguir um líder que nos colocou naquela situação e sair
dali de alguma forma ou ficar ali esperando tudo desmoronar como o prédio que
soterrou Manuel.
Peguei o mapa do meio
do grupo e todos olharam para mim.
“Vamos especular a
área, no meu antigo trabalho eles me faziam olhar os detalhes e é exatamente
isso que vamos fazer. Observem tudo, vão a cada canto, caso encontrem alguma
coisa, um túnel, ou uma saída não vá sozinho. Chame alguém do grupo para
seguir, mas voltem e avise os outros”.
“Isso”, disse o
Fuzileiro concordando mesmo que tivesse tirado toda atenção de si para mim.
“Todos de acordo?”.
Perguntei apenas para ter certeza.
E todos concordaram
com um gesto de cabeça. Logo eles se dispersaram procurando por fatores, saídas
e estratégias, todos em dupla ou trio. Ninguém havia ficado só. O Fuzileiro e
Theo ficaram ali ajoelhados me olhando como curiosos ficam ao ver um pequeno
motim se formar.
“Você tem voz”,
começou Theo, “E atitude, pena que não mostrou isso quando fomos atacados,
seria útil”.
“Foi a minha
primeira vez, nunca vi ninguém morrer, fiquei em choque”, respondi ao possível
insulto.
“Vamos ficar juntos,
nós três”, sugeriu o Fuzileiro”.
Levantamos e fomos
direto para aonde entramos. Os dois me seguiram atentos como se eu quisesse
leva-los a morte, pena que não foi eu quem fez isso.
Abri a porta e
iluminei o caminho com a lanterna do meu smart. Que mesmo sendo apenas uma
placa de vidro iluminava bem o caminho, Theo ativou sua lanterna e me seguiu
junto ao líder, ou o que deveria ser, O fuzileiro fechou a porta de madeira
atrás de nós.
“Hey”, disse ele
chamando nossa atenção, então voltei me aproximando, “essas linhas, são como
desenhos”, disse ele passando a ponta dos dedos nas linhas no chão, era nítido
que eram linhas retas e que tinham sido desenhadas ali, “Theo ilumine aqui”.
Theo o fez
iluminando com sua lanterna, o Fuzileiro o olhou nos olhos e sorriu, fiquei sem
entender o motivo do sorriso então eles olharam para mim.
“São três linhas
conjuntas”, começou Theo com um sorriso esperançoso no rosto, “Existem três
saídas”.
“Isso mesmo, vamos
seguir as linhas e ver para aonde nos leva”.
A primeira linha
levava para a aonde entramos, não nos atrevemos a levantar a porta para não
correr o risco. Pelo menos foi o que sugeri.
Mas o Fuzileiro
insistiu, ele subiu quatro barras de ferro da escada fixada na parede e forçou
os braços para cima tentando abrir a porta. Mas tudo o que conseguiu foi
derrubar um pouco de poeira no chão.
“Provavelmente o
barulho que ouvimos foi outra explosão, isso soterrou essa saída”, disse mesmo
sem saber se estava certo.
“Sim, bem pensado, o
barulho veio de cima, quando entrei vi que tinha uma casa a poucos metros
daqui”, Theo se aproximou mandando a luz direta nos meus olhos, “A primeira já
eliminamos, temos que encontrar a outra”.
Disse ele caminhando
pelo corredor, seguimos ele até a porta sem tirar os olhos do chão, Theo abriu
a porta e deu de cara com um soldado que nos olhou nos olhos como se fossemos
fugitivos de uma prisão.
“Theo”, começou ele,
“Achamos um túnel”.
Como não o
reconheci?
Theo, o Fuzileiro e
eu o seguimos até dois pilares do outro lado do abrigo.
Eu fui o único que
não tirou os olhos do chão, e enquanto caminhávamos em direção de alguma coisa,
vi que a linha havia se perdido. Eles pararam no meio do caminho e agora tinha
dois soldados dos quais não me lembrava.
“Sou Dimitri, achei
isso enquanto procurávamos por uma saída.
Era uma pedra da
mesma cor das paredes cinzentas, ele empurrou a pedra que se móvel para o lado
esquerdo com total facilidade.
“Precisamos chamar o
restante do grupo”, disse o outro soldado.
“Não podemos alarmar
todos de uma vez. Os outros grupos perceberiam a movimentação”, disse baixo
para que somente eles ouvissem.
“Tem como mandar a
nossa localização apenas para o nosso grupo”.
“Isso também
alarmaria o restante. Vários soldados olhando o smart”, disse retrucando a
ideia de Theo.
“Eu vou chama-los”,
disse o Fuzileiro, “Conheço todos do grupo, vou traze-los aqui. Enquanto isso
vocês vão pelo túnel. Quando todos estiverem a salvo irei atrás de vocês”.
“Não”, começou Theo
que olhou para o Fuzileiro horrorizado com a ideia, “você precisa vir com a
gente”.
“Ele está certo,
Theo”.
Os dois trocaram
olhares, eu sabia que havia alguma coisa ali que não estava percebendo. Segurei
no braço de Theo e o puxei para dentro do túnel mesmo sem ele tirar os olhos do
Fuzileiro.
Eu o vi sussurrar
algo, mas não conseguir ler seus lábios enquanto entravamos na escuridão do
túnel.
A porta de pedra se
fechou e seguimos reto, usei minha lanterna para iluminar o caminho, um dos
soldados que estavam atrás começou a reclamar que estávamos andando em círculo.
O túnel começou a ficar íngreme, e quanto mais andávamos tinha certeza de que
estávamos próximos a um fim. Fui o primeiro a ver uma luz, literalmente uma luz
no fim do túnel. Dimitri correu na frente passando rápido do meu lado.
Paramos de ouvir
seus passos, paramos no meio do caminho.
Sim era uma luz, uma
luz forte, vindo do sol distante.
Olhei para trás e vi
mais três soldados se aproximando. Eles pararam de correr quando se aproximaram
de nós.
“Sou Miguel, este é
Joaquim e Alex”, Miguel se aproximou e me encarou, “por que estamos parados
aqui se tem uma luz bem ali?”.
Olhei para os três,
depois olhei para Theo que me encarava com espanto nos olhos, logo ele que
parecia ser mais corajoso que eu, não estava tão mais esperançoso em seguir em
frente.
“Dimitri”, disse o
soldado atrás de mim, “Dimitri”, ele
gritou alto em direção a luz.
Não havia mais nada
a fazer, como sempre duas alternativas, apenas isso.
Seguir em frente e
saber se lá é aonde os passos param ou voltar para trás e encontrar o restante
do grupo lamentando uma fuga não tão fuga assim.
Olhei para a luz e
voltei a encarar o restante do grupo que já estava ali. Mais dois soldados se
aproximaram com sorrisos largo no rosto, vi mais sorrisos se desmancharem. E
quanto mais tempo ficava parado ali sendo flamejado pelo olhar de Theo, mais
meu coração apertava, ele parecia mais perto de sair saltando do meu peito.
“Dimitri?”.
Ouvi então olhei
para trás novamente e vi uma silhueta parada entre a luz forte e o grupo.
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