Now Or Never - Amor e Ódio

Amor e Ódio

Quando disse que não sabemos até aonde podemos chegar nesta vida estava certo, não sabemos mesmo quando é a hora de dar um basta e um adeus aos problemas. Mas quando encarei aquela silhueta grande que tapava parte da luz que entrava no túnel senti um certo alivio passageiro. Um certo alivio passageiro.
“Dimitri?”. Perguntei, então a silhueta começou a tomar forma, o rosto foi entrando na luz das lanternas e vi um sorriso no rosto de Dimitri que se aproximava cada vez mais.
“Tem uma saída”, disse ele,
Respirei fundo sentindo um peso sair das minhas costas.
“Porque demorou tanto para voltar?”. Perguntou um dos soldados.
“Verifiquei o terreno, está tudo limpo, podemos sair, a passagem dá em umas pedras não muito distante do acampamento. Observei de longe e acho que eles foram atacados também”.
Dimitri deu um passo à frente e disse baixo para que somente eu o ouvisse.
“Tem um avião, eu ouvi dos soldados que estão no acampamento falarem antes de irmos para as ruas. Eles devem ter uma localização especifica deste avião, só precisamos chegar lá”, ele olhou para o restante do grupo falando em voz alta, “nós vamos ficar bem”.
Assenti com a cabeça assim que ele voltou a me encarar para que ele entendesse que eu havia absorvido a informação.
Dei um passo à sua frente e caminhamos em direção a luz. Os olhos doeram quando finalmente saímos do túnel, demorou um pouco até que todos estivessem acostumados com a luz do sol que estava forte naquela hora do dia.
Os soldados começaram a se entre olhar. Como se estivessem se perguntando o que deveriam fazer, aos poucos outros foram saindo, Theo não parava de olhar para dentro do túnel.
Me aproximei dele e dei dois tapas de leve em suas costas.
“Ele vai sair. Sabemos que o maior perigo está aqui fora e não lá dentro”.
Theo correu para dentro do túnel antes mesmo de terminar minha frase, eu o vi abraçar o Fuzileiro, eu vi os dois se olhar por alguns segundos.
Naquele momento percebi o que mais ninguém sabia, o que ninguém desconfiava. Havia muito mais ali do que em qualquer outro lugar. Eles se olhavam como eu olhava para minha esposa ao dar à luz. E por baixo de toda aquela armadura de fuzileiro podia-se concretizar uma linda história de amor jamais contada.
O fuzileiro saiu do túnel e fechou os olhos decorrente a claridade, ele esfregou os olhos com as mãos suja e os abriu me encarando.
“Você é um ótimo líder, soldado”, disse ele e eu assenti recebendo o elogio sem tirar os olhos de Theo, “abrigado por tudo o que fez até agora”.
O Fuzileiro olhou para o restante do grupo e assoviou baixo para somente os próximos ouvissem.
“Sei que muitos devem estar assustados, pois é a primeira vez que está em combate, mas eu lhes garanto que já passei por coisas piores. Mas vai ficar tudo bem, se continuarmos juntos”.
Os soldados começaram a fazer buchichos entre si.
“O acampamento não deve estar longe,  disse para que apenas o Fuzileiro ouvisse.
“Se voltarmos podemos ser atacados novamente, não podemos dar o luxo de sofrer um novo ataque”, Theo disse olhando para mim.
“Vou fazer uma contagem, sei que perdemos três a mais homens no ultimo acontecimento”.
O fuzileiro seguiu fazendo uma chamada no grupo. Me aproximei um pouco mais de Theo e ele me segurou forte no braço apertando-o.
“Eu sei o que você acha que está acontecendo...”.
“Hey, fique tranquilo, não tem com o que se preocupar”, disse olhando para ele assustado.
“É exatamente o que espero de você, boca fechada”.
O Fuzileiro voltou e me encarou.
“Perdemos seis homens, estamos em quinze. Vamos procurar um lugar seguro, vou tentar contatar a central, precisamos sair deste pais até amanhã”.
“Porque?”. Perguntou Theo.
O Fuzileiro ficou mais perto puxando nós dois e falou baixo.
“Eles vão explodir este lugar, tem bombas espalhadas porto o território. O plano é salvar o máximo de civis até esta noite, quem não retornasse será dado como morto para a União”.
Aquilo que ouvi... Não estava acreditando, apenas me afastei dos dois, queria deixar minha mente em silencio, precisava pensar, tinha que ter uma forma de sair dali.
Eu prometi para ele que voltaria.
Eu precisava voltar para a minha casa, não queria aquele destino, não podia ter aquele destino, quando recebi a intimação para servir o meu país, não imaginei que aquele seria o meu fim.
“Certo pessoal”, o Fuzileiro falou alto chamando a atenção de todos para se juntarem, “vamos passar a noite aqui. Se organizem para fazer um revezamento na segurança, sairemos as sete horas da manhã, quero todos prontos”.
Theo se aproximou novamente, estava a uns cinco metros do grupo tentando subir em cima de algumas pedras para ter uma visão melhor quando ele me chamou.
“Hey”, olhei para ele, “sinto muito, não devia ter agido daquela forma”.
“Eu sei, você foi um pouco precipitado, mas eu te entendo”.
Theo sorriu e olhou em direção ao mar.
“Theo, você me lembra muito um amigo. Ele era assim como você. Eu não tenho nada contra, estamos em uma era completamente diferente agora. Ninguém liga se você gosta de homem ou de mulher”.
Theo meu olhou com os olhos cheios de lagrimas prestes a deixa-las escorem por seu rosto.
“Em que país você vive atualmente?”. Ele fez uma pausa esperando uma resposta,  mas fiquei em silencio apenas olhando para ele, então continuou, “não ouviu nada sobre a perseguição que lideres gays sofrem, todos os dias? Há cada vinte e cinco minutos um homossexual morre, eles morrem por amar, apenas por amar”.
“Pensei que o mundo estava mais evoluído agora”.
“Olá? Aonde você está agora? Estamos em guerra, eles não aprenderam nada com o passado, eles não aprenderam nada sobre como as guerras não são boas para a população. Você ouviu o que o Marcos disse, o Fuzileiro, eles vão destruir este lugar. Eu não queria estar aqui”.
“Eu não queria estar aqui”, disse ficando ao lado dele.
“Estou aqui por que amo ele, estamos juntos há sete anos, me alistei e ele me colocou no grupo dele. Aquele homem”, ele olhou para trás e me fez acompanhar seus olhos que estavam no Fuzileiro que conversava com os outros soldados, “ele é maravilhoso, eu não suportaria ver ele ouvindo todos os tipos de piadas que já ouvi. Sofrer o que sofri, ou passar por tudo...”.
“Não vou dizer nada, não mesmo”.
“Obrigado”.

A noite foi longa, meu turno para ficar de segurança foi o primeiro. Não parava de imaginar tudo aquilo explodindo em questão de minutos. Não parava de pensar nos civis que ainda poderiam estar escondidos. Os Rebeldes... todos eles, eles têm uma causa, mesmo que eu não concorde com ela, mas apenas acho que ninguém deveria morrer.
Quando meu turno acabou troquei de lugar com Theo que me cedeu seu lugar na barraca montada dentro do túnel. Deitei lá, mas não conseguia dormir. As horas foram passando e eu ainda não havia dormido nada.
“Levanta, soldado”.
Disse o Fuzileiro com a cabeça na entrada da barraca. Levantei rápido. E sai. Theo já estava pronto para guardar tudo. Eu o ajudei a desmontar a barraca.
Estávamos todos esperando que o Fuzileiro começasse a falar. Ele não tirava os olhos do smart. Ficava teclando apressadamente e olhando para os lados como se estivesse procurando por algo.
Acho que todos nós estávamos. Sabe, procurando por algo. Procurando uma forma de sair daquela situação vivos, os terrestres rebeldes poderiam nos atacar a qualquer momento, e seria trágico, não estávamos preparados para isso.
A academia não treinou nos para não sentir medo, eles treinaram a gente para serem soldados com armas de lazer, mas não para impedir que chorássemos.
Esse foi o maior erro.
“Eu recebi a instrução da central. Precisamos chegar ao acampamento aonde aterrissamos. Tem um avião esperando por nós. Mas precisamos fazer isso até ás oito horas ou ficaremos para trás”.
Os homens começaram a pestanejar seus comentários altos e claros.
“Acalmem-se, vamos conseguir”, o Fuzileiro clicou no smart fazendo todos os outros receberem um alerta”, acabei de enviar um mapa, estamos a um quilometro do acampamento. Quero que verifiquem suas armas. Em quinze minutos estaremos longe daqui”.
Me aproximei rapidamente do Fuzileiro. Ele me encarou como se estivesse assustado, mas sem assumir.
“O caminho traçado nos leva diretamente aonde fomos atacados, teremos que passar por lá”, disse mostrando a tela do meu smart, “precisamos fazer um desvio, tem que ter um jeito de fazer um desvio. Não podemos arriscar”.
“Eu estou no comando, soldado, eu sei o que estou fazendo”.
Ele saiu andando para dentro do túnel como se não se importasse com o que acabara de dizer. Na verdade, ele não se importou nenhum pouco.
O grupo estava pronto para a trajetória suicida. O fuzileiro organizou três grupos de cinco soldados. O primeiro grupo saiu na frente, estávamos trabalhando por sinal, caminho livre, um bipe no smart. O segundo grupo saiu em seguida.
“Você sabe que...”, ele me olhou repugnando qualquer coisa que fosse falar. Theo me encarou  como se estivesse perguntando o que estava acontecendo entre nós. Olhei para frente e recebemos o bipe.
Caminhamos rápido pela área aberta, a praia. Corremos de peito baixo esperando por qualquer tipo de ataque que pudesse ocorrer, de onde estávamos era possível ver os outros dois grupos. Dimitri me cutucou no braço com seu cotovelo.
“Você está certo, se fomos pelo caminho dele seremos massacrados”.
“Siga as ordens Dimitri, siga as ordens”, disse com um sorriso irônico no rosto.
Faltava vinte minutos para o avião sair e abandonar todos naquele território desconhecido.
Esperança. Tínhamos que ter esperança.
Mais um bipe, o caminho estava livre. Consegui ver de longe a ruína do prédio que caiu diante os meus olhos. A arma estava pronta para disparo. Meu coração estava acelerando. Mal sentia os meus dedos, minhas pernas. Encostamos no muro para atravessar mais uma rua, Theo me olhou e assentiu.
“Marcos”, Theo se colocou na frente do Fuzileiro fazendo-o olhar para ele, “Vamos cortar pela quadra debaixo”.
“Não, vamos seguir o meu caminho”. Ele retrucou imediatamente empurrando Theo para trás dele.
Um barulho alto ecoou vindo de trás, algo como uma explosão. Vimos o morro se desmanchando quando olhamos para trás.
O esconderijo estava sob ataque. O morro todo estava.
“Vamos”.
O fuzileiro correu na frente, e nós o seguiu.
“Vamos, Ed”. Disse chamando a atenção do outro soldado que estava no grupo.
Atravessamos a rua e nos escondemos atrás de um prédio.
“Cinco minutos”.
Corremos rápido, meu coração estava ainda mais acelerado. Minhas penas doíam.
Estava atrás de Dimitri. Tiros soaram próximos e todos nós olhamos para trás. Os terrestres estavam correndo como uma manada de rinocerontes enfurecidos em nossa direção.
Conseguia ver avião a menos de alguns metros.

Olhei para trás e vi Ed caindo no chão como uma moeda cai do bolso. Eu parei... eu travei.

Comentários

  1. Não estou crendo nas coisas que estou lendo neste livro, Iury Sotos você é sensacional serio mesmo, você me deixando louca. Assim que começou anunciar essa historia fiquei curiosa para saber o que teria de tão impactante e serio eu já encontrei, você está de parabéns com esses três capítulos que já li. SERIO MESMO, continue assim.

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