Correntes Secretas - Presságio



Presságio

Quinta-feira, passei o dia fora de casa, alguns documentos a serem revisados, precisava manter a minha cabeça ocupada para qualquer que fosse a atividade. Era estranho ter uma data exata para ir a um lugar estranho.
Tinha uma lista de perguntas, uma lista questões que perambulavam pela minha cabeça. O dia nunca esteve tão longo.
Pedi para que Jeferson tirasse o dia de folga, um motorista ficou a minha disposição, não importasse para aonde iria ele estava sempre ao meu lado fazendo também o papel de segurança.
Não que eu tivesse pedido isso, mas as preocupações da minha Tia Ingrid chegaram a este ponto. O motorista estacionou o carro em frente a porta branca principal da mansão, desci do carro e entrei para dentro, o ar era mais quente. Já que o tempo frio ainda não havia deixado a cidade.
Lúcio estava me olhando do topo da escada, ele desceu me encarando, e só então percebi sua preocupação.
– Eles estiveram aqui – ele disse sem me preparar para a informação, meu coração acelerou enquanto ele se aproximava um pouco mais – não eles em si, mas um mensageiro deles.
– E qual foi o recado? – Perguntei apreensivo.
Lúcio direcionou seu olhar para a mesa de centro da sala, nela havia um envelope dourado lacrado a cera da mesma cor. Ele estava timbrado com uma rosa em seu desenho, eu o encarei novamente.
– Disseram que somente você poderia abrir – me curvei para pegar o envelope, mas Lúcio foi mais rápido e o pegou primeiro – seja o que for você não deve aceitar, conheço quem veio entregar, na verdade reconheci sua voz, ele não é liberado para sair assim do nada, apenas quando é muito necessário.
Lúcio segurava o envelope na ponta dos dedos, seu corpo estava arrepiado e eu podia acreditar em suas palavras, ele parecia aterrorizado de medo. Sua respiração estava pesada e a voz apreensiva, aquele não era de nenhuma forma o jovem confiante de antes.
Peguei o envelope de sua mão e o abri, não tinha como voltar atrás, não mais o que eu havia lido deveria ser cumprido.
– Vamos precisar do Jeferson – disse fitando o envelope dourado.
– Você deu folga para ele – Lúcio respirou fundo e continuou – o que está escrito?
– Ele não tira folga, mesmo que eu quisesse, deve estar no quarto – olhei para Lúcio e ele estava mais nervoso do que antes – iremos receber um convidado para o jantar de hoje, Jeferson está no quarto dele, diga que eu pedi o melhor banquete possível, daqui três horas receberemos um dos membros, e eu preciso que esteja tudo perfeito para isso acontecer.
Deixei Lúcio na sala enquanto subia a escada em direção ao meu quarto, ele estava tão surpreso que ficou sem reação. Caminhei pelo corredor e entrei dentro do quarto, levei o envelope até o nariz e senti o cheiro.
Um pouco madeirado, sentia o cheiro de canela, o cheiro de um perfume que eu conhecia e reconheceria em qualquer lugar. O rosto de Jean veio diretamente na minha cabeça, era tão recente, mas a sua imagem estava tão distorcida. Aquele era o perfume, alemão, muitas vezes tentei encontrar aquele perfume, mas Jean uma vez me disse que foi um presente de uma prima distante.
Queria entender esse jogo, porque do perfume? O que havia neste cheiro? O que eles esperavam, queriam uma reação, ou era apenas para colocar medo?
Duas batidas na porta, com um susto tirei o envelope de perto de meu rosto e encarei Lúcio que entrou e fechou a porta atrás de si.
– Você não pode fazer isso, Fábio – ele estava nervoso, se aproximou com passos rápidos e ficou perto o suficiente para que eu pudesse sentir seu calor – eles vêm para me buscar.
– Não – neguei e segurei seu rosto com as minhas mãos – tenho um prazo.
– Como assim? – Ele deu um passo para traz se desconectando de mim.
– Fui convidado para ir a Seita – Lúcio fechou os olhos e fechou as mãos em punho como se fosse socar algo – acalme-se, eu nunca te entregaria.
Ele parou de se mexer de um lado para o outro e me encarou, seus olhos estava em fúria, vermelhos como o seu rosto, ele parecia estar explodindo por dentro, uma raiva que eu nuca havia visto.
– Foi no dia do seu aniversário – ele disse, mas eu não entendi, me aproximei lentamente olhando em seus olhos, mas ele desviou e caminhou para o outro lado do quarto – você estava comemorando o seu aniversário quando eu fui levado, não tinha ninguém em casa, era apenas eu, quando dois homens entraram sem fazer barulho e começaram a me agarrar quando eu saia do banho, tentei fugir deles, mas de alguma forma eu apaguei e só acordei quando já estava dentro do prédio da Seita. Lembro de escutar todos cantando os “parabéns”.
– Te vi naquela manhã, foi a última vez que te vi, mas não foi a última que pensei em você – ele me encarou com seus olhos cheios de lagrimas – acredite, eu nunca te entregaria para eles.
– Vou partir hoje à noite – ele disse com firmeza.
 – Por favor, não faça isso...
– Não é por causa de hoje, é o conjunto completo, estou te colocando em perigo, essas situações...
Eu o beijei interrompendo suas palavras, ele retribuiu segurando minha cintura com suas mãos firmes, seu corpo quente junto ao meu, sua boca com gosto doce, os lábios macios, suas mãos subiram até meu pescoço, meu corpo se contraiu em um arrepio profundo. Ninguém me disse que seria assim, tão bom. Foi como se estivesse entrando em um mundo onde existia somente nós dois. Uma de suas mãos estava junto a minha e está subiu lentamente pelo meu braço, seus lábios saíram dos meus e ele levemente beijou meu pescoço.
Dei um passo para trás.
Queria aquilo, e ele também, podia ver no volume que subiu em sua calça, mas não podia fazer aquilo, não naquele momento. Ficamos nos encarando, era como magnetismo, queria sentir aquilo de novo.
– Preciso de você aqui comigo – disse quebrando o silencio – você não pode me deixar, mesmo que for, vou prosseguir com o que estou fazendo – disse tentando controlar a minha respiração afobada, tentando não olhar para os músculos dele que era marcado na camisa branca.
– Você tem certeza de que quer fazer isso? – Ele perguntou, embora ainda não tivesse entendi sobre o que estávamos falando, não conseguia tirar os meus olhos dos dele.
– Vou continuar – ficamos novamente em silencio – não vou deixar nada me machucar, você não precisa se preocupar.
Ele se aproximou colocando sua mão no meu rosto, seus dedos longos tomava toda a minha face, até tocar minha orelha, seu toque em arrepiou novamente, ele estava com seu corpo colado ao meu, fechei os olhos e deixei acontecer.
Ele me beijou, e seu senti meu corpo implorar por aquilo, soltei o envelope da ponta dos meus dedos, ele me deixava fraco e al mesmo tempo poderoso, ele se afastou.
– Não faça nada que alerte eles, fique preparado para qualquer surpresa, nem eu sei do que Iris Gabriela é capaz.
– Vou tomar cuidado – me afastei recolhendo o envelope do chão e o colocando em cima da mesa de apoio abaixo de um quadro de armação branca – mas preciso me prevenir. Fique pronto para sair antes deles chegarem. Vou pedir para providenciar um carro, não quero você por perto.
– Tudo bem – ele concordou – precisa se arrumar, você tem convidados para receber.
Lúcio saiu do quarto e antes dele fechar a porta Jeferson surgiu com o seu uniforme impecável.
– Vou parar de te dar folga, Jeferson – brinquei quando o vi passar pela porta – espero que consiga o que pedi.
– O pessoal já está providenciando, o Senhor tem certeza disso?
– Você está sempre alerta, não é, Jeferson? – Ele assentiu concordando com a cabeça – Preciso que fique ainda mais durante este jantar, todos os movimentos, somente você está autorizado a circular durante, não queremos que nada interrompa o jantar novamente.
– Entendido.
– Por favor, providencie alguém para tirar Lúcio daqui, até o jantar acabar, não quero surpresas.
Jeferson assentiu e se retirou do quarto fechando a porta. Demorei um pouco mais de uma hora dentro da banheira, deixei que as ervas acalmassem o meu corpo, precisava daquilo tanto quanto só pensava no toque de Lúcio mais cedo. Não era a minha intenção para aquela noite. Nada do que aconteceu poderia ter sido planejado por mim.
Depois de vestir uma calça para a ocasião e uma camisa branca acompanhada de abotoadoras douradas me encarei no espelho me perguntando se realmente estava pronto para o que quer que estivesse prestes a acontecer.
Interiormente disse que sim, mas sabia que não estava.
Mesmo assim, abri a porta do meu quarto e caminhei pelo corredor, passos leves e calmos, deveria transparecer calmaria. Era assim que deveria estar, mesmo que por dentro o meu corpo e espirito estivesse gritando. Eu nem sabia o que estava fazendo quando desci a escada, degrau por degrau.
E quando os meus pés tocaram o último, ouvi a campainha tocar, o coração dentro do meu peito disparou.
Jeferson veio da sala de jantar com seus passos rápidos, eu o encarei e assenti e ele logo entendeu. Caminhei em direção a porta e com a mão na maçaneta eu a abri.

Comentários

  1. Quando penso que vai, alguém recua. já quero o próximo capítulo

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