Aquele que partiu - As três palavras (Especial)
As três palavras
Eu consigo me lembrar, as lembranças não param de ir e vir, e
por mais que eu esteja como estou, ajoelhada bem aqui. Na grama verde sem poder
toca-lo é como se eu o visse.
É como se ele ainda fosse real. E que ainda me amava.
Lembro dele querer fazer as coisas diferentes, iriamos passar
a virada do ano juntos e ele mesmo quem planejou cada detalhe.
Estava pronta e insuportavelmente ansiosa sentada na cama usando
um vestido vermelho com uma fita branca amarrada na altura da cintura, um chapéu
floppy dava ao meu modelo uma certa elegância
devida as abas largas que caiam simetricamente, calçava um salto fechado que me
deixava com a mesma altura de Tate que ainda estava no banheiro.
Já era possível ouvir os fogos de artifícios explodirem pela
cidade que já estavam comemorando a chegada de 1977.
Tate saiu do banheiro usando um terno cinza de duas peças,
trespassado de dois botões, ele exibia elegância enquanto caminhava na minha
direção, em seus olhos havia um brilho que eu nunca tinha visto até aquele
momento. O colarinho era largo como a gravata e a lapela, destacando o modelo único
da década, sua calça era apernada na perna e abria como sino nas barras. Ele me
olhou como Elvis fotografado no pôster
colado na parede.
“Como estou?”. Ele perguntou me segurando pela cintura e me
puxando contra seu corpo.
”Agora além de andar como um conde dinamarquês você também se
veste como um”, disse com um sorriso bobo no rosto, ele se apressou e me beijou
de leve.
Com risos esquivei para o lado e logo me aproximei do espelho
para ver se o batom rosa claro ainda estava em meus lábios.
“Vamos, você demora demais para se arrumar”, disse Tate
parado entre a porta e o corredor com papel de parede florido, ele sabia muito
bem fazer uso da ironia.
Passei por Tate e caminhei pelo corredor enquanto ele
trancava a porta. Não demoramos para descer as escadas e entrar em seu Mustang
preto, ele acelerou o carro saindo da rua Carrera
2 e depois saindo do bairro La
Candelaria. Ele seguiu pela Avenida
Circunvalar e depois seguiu o pelo Camino
Del Meta. Demoramos cerca de uma hora para chegarmos aonde ele queria, as
margens do lago San Rafael.
Descemos do carro e ele logo me puxou pelo braço levando-me até
a agua fria do lago, era estranho, ele olhou em um relógio de bolso que
carregava e disse:
“Faltam dois minutos, você tem alguma coisa para falar?”. Ele
disse segurando as minhas mãos.
“Eu nem sei, pensei que iriamos para uma festa ou alguma
coisa do tipo”, sorri um pouco envergonhada, “Te conheço há quatro meses, mas parece
que a vida toda, estou amando tudo isso, sabe, eu não tinha tanta... essa vida
cheia de aventuras”.
“Eu sou um ótimo aventureiro”, ele fez silencio e começou a
caminhar para dentro da água, me contive, mas ele segurou a minha mão
guiando-me, “Violet Quispe, lembro da primeira taça de champanhe que te servi, também
lembro de ter sido o culpado de você ter falado algumas coisas a mais para a
sua mãe”. Ele olhou novamente no relógio de bolso. “Trinta segundos”. Ele
sorriu e me puxou um pouco mais para perto, “Quero que você seja a primeira
pessoa do ano, quero que você seja a única pessoa deste novo ano nas nossas
vidas, e quero que você escute as três palavras mais importantes assim que
começar 1977”.
Os fogos de artifícios iluminaram o céu, vistos do lago, um
lugar inédito, eles me pareceram ainda mais especiais, Tate me abraçou e
sussurrou as três palavras que havia citado em meus ouvidos.
Ele me beijou pressionando seu corpo ao meu. Achei errado
fazermos o que fizemos ali, mas foi tão bom.
Mas isso é apenas o começo das minhas lembranças, o dia ainda
é longo e hoje é o meu aniversário. Tenho certeza de quem nem todas as minhas
lembranças são boas assim.
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