Correntes Secretas - Pele


Pele

O rosto era o mesmo, o mesmo das minhas lembranças, o corpo havia mudado, olhando de forma rápida, havia mais músculos e uma aparência de homem forte e maduro. Foi o tempo.
Também ocorreram mudanças no meu corpo, antes eu era um garoto magricela, de rosto sem forma e cabelos escuros, mas naquele momento, ali olhando Lúcio, pude ver meu reflexo atrás dele, nos espelhos emoldurados presos a parede. Meu cabelo estava dois tons mais claros, meu maxilar rígido e marcante, meu corpo havia crescido, de certa forma havia mais músculos escondidos na carcaça pálida.
– Olá – disse eu, dissipando o silencio que correu ao longo da sala por alguns segundos que se eternizaram na minha cabeça.
– Desculpe te incomodar, não era a minha intenção quando cruzei seus portões – ele colocou as mãos na frente do corpo entrelaçando seus dedos longos e esguios, como se estivesse afim de mostrar certo respeito – eu não sabia quem procurar.
Dei um passo à frente e ele recuou um para trás como se sentisse repulsa de um ataque qualquer.
– Por favor, sente-se – mostrei-lhe um dos sofás com o acenar de uma das mãos e ele se aproximou sentando-se, fiz o mesmo me ajeitando no sofá de armação dourada e almofadas azuis de frente a ele – em que posso te ajudar?
– Faz um tempo que não nos vemos, eu sei, mas você era o melhor amigo do meu irmão...
– O que te traz aqui, seja direto – ordenei interrompendo sua introdução que parecia querer demorar demais.
– Preciso de – ele fez uma pausa e olhou sobre meus ombros, me virei e vi Jean parado logo atrás do sofá – preciso de um lugar, para passar algumas noites.
– Como me encontrou, Florida não é muito Nova York, não é? - Ele se perdeu ainda encarando Jean, eu me levantei – Este é Jean Carlos, um amigo – palavras inoportunas, já que no mesmo momento Jean me lançou um olhar de desaprovação.
Jean assentiu e Lúcio voltou a me olhar nos olhos.
– Podemos conversar em particular? – Perguntou Lúcio como se estivesse querendo fugir de Jean, e isso me instigou a curiosidade e por isso, caminhei até a porta de entrada da piscina externa, ele me seguiu com seus passos leves, fechei a porta assim que Lúcio entrou no cômodo – você tem certeza de que aqui estaremos sozinhos, sem nenhum incomodo?
– Sim – eu o fitei caminhando em direção à beira da piscina retangular que tomava todo o fundo da área – eu só não entendi por que o retorno depois de tantos anos.
– Anos? – Ele fez silencio e caminhou ficando do meu lado, olhando pela parede de vidro o jardim externo – Olhando dessa forma parece que se passou dez, vinte anos. Foram apenas dois e alguns meses desde que nos vimos.
Olhei para ele e vi um sorriso de canto em seus lábios, ele estava gostando daquilo, como se as lembranças varressem sua cabeça sem nenhum peso na consciência.
– Pareceu uma eternidade com tantas percas...
– Eu sinto muito – ele me encarou com seus olhos pesados e pude ver que ele estava falando a verdade – fiquei sabendo dos seus pais, foi assim que te encontrei, é incrível como é possível encontrar as pessoas facilmente pela internet. Embora isso não me faça me sentir seguro.
Olhei para trás e vi o olhar de Jean analisando todo o cenário, torcendo para pudesse ouvir algo do outro lado do vidro, mas quando planejada, a área da piscina virou um lugar impenetrável, vidro a prova de som devido aos seus doze centímetros e meio de espessura.
– Aquele rapaz lá fora é mais do que um amigo – eu olhei para Lúcio – você entende? – Ele assentiu com a cabeça concordando – Então deve entender o desconforto que ele sente por eu estar conversando com você a sós?
– Talvez o que eu vou te pedir, possa causar mais desconforto – olhei para Jean e sorri como se dissesse que estava tudo bem, enquanto a minha mente negava em um grito sufocante – eu preciso de um lugar para ficar.
Lúcio me olhou nos olhos como se implorasse por misericórdia, seus olhos brilhantes em um tom cinzento, aquele sempre foi o meu ponto fraco, aquele maldito olhar e o sorriso de canto, eu odiava aquilo.

Lembro de ir para o meu quarto depois de desculpar por ter derrubado o capo no chão da cozinha, Sheila com toda certeza estava blasfemando o meu nome enquanto limpava o vidro, mas isso não a impediu de me mandar para quarto como se estivesse ameaçando a minha vida com apenas um olhar. Caminhei em silencio esperando entrar no meu quarto e finalmente dormir. Mas quando fechei depois de entrar e acendi a luz e Lúcio estava ali, parado perante a janela, seu corpo nu, suas costas marcadas por focos de musculo, ele tinha um corpo atlético e atraente, dei um passo à frente filmando seu corpo dos pés à cabeça, descendo as costas as nádegas redondas e volumosas, as pernas definidas e os pés descalços. Ele se virou me fitando com aqueles olhos brilhantes e cinzentos.
O impulso de vê-lo de frente fez eu virar o rosto fechando os olhos, e mesmo que por dois rápidos segundo pude ver a pele lisa como a seda, e seu membro corpulento estava ereto com uma ereção que eu jamais tinha visto.
Com os olhos fechados eu o senti passar ao meu lado, de repente a luz se apagou e eu abri os olhos admirando apenas a luz da lua cheia que inundava o quarto pela janela.
“Eu sei”, ele disse em um sussurro baixo, “eu sei”, ele repetiu perto da minha orelha fazendo meu corpo se contrair com um arrepio, “eu te observo”, ele estava parado bem na minha frente, seus lábios a cinco centímetros de distância dos meus, “eu sei que você me observa”, seu corpo colou-se ao meu e neste momento eu senti seu membro tocar meu corpo, tocando a minha barriga, eu o olhava de baixo como se de alguma forma pudesse enxerga-lo de forma mais clara, mas era impossível naquela meia luz.
“O que você quer?”. Perguntei em um sussurro ainda mais baixo que o dele, meus lábios tremiam, meu subconsciente também queria, pois até o meu membro mostrava uma ereção que eu jamais tive.
Ele me tocou, bem lá, e meu corpo amoleceu em sua mão, minhas pernas balançou e eu gemi com o toque dele. De mão cheia ele fazia alguns movimentos lento que me proporcionava certo prazer. Não devo mentir, era um jovem adolescente cheio de hormônios e pronto para qualquer um que me fizesse libera-los.
Ele se curvou e tocou meu pescoço com seus lábios, eu revirei os olhos no mesmo momento que todo o meu corpo se contraiu, com a outra mão, ele me puxou pressionando seu corpo ainda mais ao meu, beijando ainda mais voraz o meu pescoço...

– Quanto tempo? – Perguntei voltando de meu devaneio.
– Até a poeira da minha vida abaixar – ele esquivou seu olhar encarando a cesta de basquete do outro lado do vidro da área da piscina.
– Já que vou te receber dentro da minha casa -ele sorriu voltando a me encarar com aquele olhar sacana – preciso saber de quem e do que você está fugindo?
Ele se aproximou lentamente e se inclinou próximo ao meu ouvido. Em um sussurro claro ele disse:
– De mim mesmo.
Olhei para o lado e Jean estava parado me encarando com a porta dupla de vidro aberta.
Jeferson surgiu atrás dele e me olhou examinando toda a cena como um bom advogado.
– Prepare um quarto para Lúcio, ele passará alguns dias conosco – disse olhando diretamente para Jeferson que assentiu com a cabeça.
– Devo lembra-lo do seu jantar em dois dias, Senhor Laguna, devo também organizar a mesa para posicionar mais um lugar? – Jean olhou para Jeferson e saiu de sua frente deixando o espaço entre nós vago.
– Eu agradeceria mais Jeferson se fizesse isso pelo nosso convidado.
Jeferson assentiu e saiu pela sala de jantar. Caminhei em direção a Jean que já estava prestes a sair pela porta principal da sala.
– Jean, por favor – disse fazendo ele interromper seus passos apressados, ele parou e se virou me encarando com os olhos cheios de fúria – ele é um antigo amigo da família e precisa de um lugar para ficar.
– Tudo bem, mas não preciso me sentir confortável com isso – ele se virou e abriu a porta, mas antes de fecha-la eu o ouvi dizer – eu não confio nele.
Olhei em direção a Lúcio que se mantivera parado atrás da porta aberta da área da piscina, ele assentiu como um breve agradecimento.
– Assim que um dos quartos estiverem prontos, Jeferson lhe mostrara qual lhe pertence.
Comecei a subir os degraus para o segundo pavimento.
– Fábio – Lúcio me chamou fazendo eu o encarar no meio da escada – obrigado por fazer isso, mesmo depois de tudo o que aconteceu.
– Não foi nada demais, você apenas me esqueceu.

Estava solto em seus braços firmes, estava entregue e cada vez mais me entregando a ele. Era como se o mundo todo tivesse parado para podermos viver aquele momento, ele me girou no ar e já estava deitado sobre o meu corpo em cima da cama, forçando seu corpo de forma lenta e delicada enquanto sondava meu pescoço com seus lábios.
Tudo acontecia de forma lenta e doce, era estranho estar dentro da cena, mas foi exatamente desta forma, minhas pernas entrelaçaram seu quadril forçando-o ainda mais, ele então tirou a minha camiseta de flanela e começou a mordiscar meus mamilos com apenas seus lábios de veludo. Meu corpo quase sedia ao seu peso, mas eu não me importei em deixa-lo à vontade.
Com uma das mãos ele se apoiou na cama e se levantou, com a outra mão ele levantou a minha cabeça levando minha boca até seu grandioso membro. Eu o abocanhei, faminto, e seu gosto era bom, doce e ao mesmo tempo salgado, era pele na pele. Uma música começou a tocar na minha cabeça fazendo aquilo ficar ainda melhor, ele então segurou minha cabeça com as duas mãos escorregando seus finos dedos entre os fios da minha nuca. Ele começou a me guiar com movimentos lentos de vai e vem, suave, eu o escutava, eram gemidos baixos, quase que inaudíveis. Sentia seu corpo pulsar dentro da minha boca e ele começou a aumentar a velocidade do movimento repetitivo. Conseguia respirar entre as enterradas, mas ainda assim era bom.
Ele se retirou da minha boca e se curvou beijando os meus lábios, ele era voraz e forte.
Ele pesado e astuto com seu frenesi. Ele parou de me beijar e voltou seu membro na minha boca e estava ainda mais firme, ainda mais duro e ainda maior.
Eu o abocanhei com vontade, o segurei entre os meus finos lábios e senti o liquido entre escorrer para dentro da minha boca. Uma estocada forte e mais um jato se espalhou no meu rosto. De início fiquei enojado, mas durou apenas dois segundos, logo ele me levantou e ficou na minha altura, com a ponta do seu dedo polegar ele limpou seu vestígio do meu rosto.
“Vá se limpar”, ele disse levantando minha cabeça com a ponta de seus dedos delicados.
Vesti a minha camiseta de flanela e caminhei em direção a porta abrindo-a, entrei no banheiro ao lado do quarto e me olhei no espelho assim que a luz se acendeu, no meu rosto havia um liquido vistoso esbranquiçado, eu sabia exatamente o que eu tinha feito, e sabia que foi errado, era para ser apenas uma noite normal na casa do meu amigo, mas se tornou algo diferente da minha expectativa. Me curvei e lavei meu rosto com sabonete líquido.
Eu sorri dizendo a eu mesmo que tudo bem, que tudo bem pecar, que tudo bem ter feito aquilo com o irmão mais velho do meu melhor amigo, dentro da casa do meu melhor amigo. Eu apaguei a luz do banheiro e sai voltando para dentro do meu quarto. Eu o procurei ali dentro, mas Lúcio não estava ali, não mais.
Tudo bem eu querer mais?
Tudo bem ele não ter dito uma palavra quando nos encontramos na semana seguinte?
Tudo bem eu ter me masturbado revendo as minhas memorias naquela mesma noite?
Acredito que tudo bem. Afinal, nos momentos em que pensava nele me tocando sexualmente eu não imaginava vê-lo de novo, e nem ele imaginava que poderia precisar passar um tempo na minha casa.
Não podemos fazer nada se o destino escolhe os nossos caminhos, temos apenas que viver o momento com calma e muita paciência.

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